
Eu nunca fui nenhum entusiasta das drogas (ok! Isso não é nenhum sermão pseudo-moralista). Nunca permiti que elas entrassem de maneira agressiva na minha vida. Fiz isso apenas por achar que elas não me trazem absolutamente nada de positivo. Entretanto quando li as palavras citadas acima acabei de certa maneira compreendendo o recado de Hicks e repensando alguns conceitos sobre estados alterados da mente. Por que será que tantos gênios da arte possuem um vínculo quase que indissociável com as drogas?
Alguns gênios, dentro da situação social que nascem, quando exprimem seus sentimentos pela arte (qualquer que seja), são muitas vezes machucados, menosprezados, criticados e incompreendidos. Que repulsa e agonia são essas que causam aos que os rodeiam ao ponto de serem descartados e considerados “extras” por serem artistas? Arte é o trabalho da beleza. O artista expõe sem medo o que traz, retrata pelas mãos, cordas vocais a mensagem de que existe algo muito mais além do que os nossos brutos sentidos humanos podem captar. Por meio de uma bela música, pintura, escultura, uma pessoa que esteja triste pode ficar alegre só de ter contato com alguma destas obras. Como o canto de um pode nos levar a lágrimas e a emoções indescritíveis, quando outros mil poderiam cantar a mesma canção sem nos causar emoção alguma? Escritores que nos levam a devorar páginas e perder a noção do tempo, pois nossa mente é conduzida pela energia viva do escritor impressa naquelas páginas. Assim como um músico executa uma partitura, na execução também há uma forma de arte muito bela. A arte lida com os sentidos da alma.
Como explicar que as mãos de alguém que jamais estudou são capazes de retratar sentimentos como alegria, tristeza, saudade, através de traços perfeitos (e retratar aqui não significa dizer que a obra inspire tais sentimentos, mas que realmente os retrata)?!
Há casos de mensagens que, por serem tão belas, muitos não as compreendem, podendo a compreensão só vir muitos anos depois da morte do artista, como ocorreu com Van Gogh: um gênio cuja expressão de suas obras para os olhos do mundo causa para os leigos incredulidade, para muitos são meros rabiscos! Aquele gênio via a desgraça que habitava aquela época em que viveu. Muitos não compreendem ate hoje suas pinturas. Elvis Presley, por exemplo, revolucionou o mundo: as conseqüências de sua vida tornaram o planeta o que hoje ele é (liberdade, quebra de padrões, etc.).
Como uma alma de tal tamanho, brilho e abrangência se comportaria ao despertar condensada em um corpo bruto e pesado como o de um ser humano? Como esta mesma alma poderia suportar o peso da incompreensão, das críticas, dos menosprezos? Como lidar com as limitações que o corpo lhes impõe? Talvez comecemos a entender essa relação dos gênios com as drogas...
Volto a ressaltar: não acho que as drogas tragam nada de positivo para a vida de ninguém.
Há duas semanas o planeta pode vivenciar a morte de uma cantora talentosa com um comportamento autodestrutivo da mais grave ordem: Amy Winehouse. Uma mulher com um timbre de voz interessante e uma capacidade melódica acima da média. Ponto. O jazz é um estilo que estou sazonalmente bebendo em suas fontes. Tenho uma admiração inestimável por Ray Charles, amo a intensidade de Billy Holiday, o brilho de Miles Davis, Louis Armstrong dentre outros. Mas confesso que em nenhum momento consegui ser contagiado pela música de Amy. Sua banda é esplêndida, os arranjos são maravilhosos, mas felizmente não é apenas disso que músicas grandiosas são feitas.
A arte de um show numa arena na presença de milhares de pessoas, com aparelhos que transmitem aquilo para todo o mundo, faz com que o artista que conduz a si próprio ultrapasse limites impressionantes. São dezenas (ou centenas) de milhares de pessoas vibrando da maneira mais intensa e pulsante possível em consonância com as mensagens que o artista está derramando sobre todos naquele exato momento. E assim sendo cabe ao artista toda a responsabilidade sobre o teor daquela energia desprendida em forma de música a todos que estão ali a consumindo. Acredito sinceramente que o artista colha o retorno disso na mesma proporção que ele emitiu.
Então, caro leitor, se você chegou até aqui é porque provavelmente existe um pouco de concórdia sua em relação ao que relatei aqui. Assim sendo, responda: qual o legado que Amy Winehouse deixou para seus fãs? O que ela transmitiu ao sintonizar suas canções com as almas de seus seguidores? Quantos jovens dependentes de drogas sentiram-se encorajados a enfrentar as pessoas que os amam – loucas para salvá-los da degradação onde eles estavam afundando - dizendo “no, no, no” ao rehab?
John Lennon declarou certa feita que havia 5 anos que ele não passava um único dia da sua vida sem estar “chapado”, mas o mundo lembra dele através de músicas como Imagine e All you need is Love; Michael Jackson foi vitimado por excesso de medicamentos (drogas!) mas o que todos recordam são as suas mensagens humanitárias (“We are the world, we are the children”); Renato Russo, Cazuza, Raul Seixas aqui no Brasil nos deixaram na boca frases como “É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã”, “Brasil, mostra sua cara!”, “Levante sua mão sedenta e recomece a andar - Tente outra vez!” – apesar do excessivo consumo de drogas e álcool dos três.
Não acredito no mito Amy Winehouse, não a considero um gênio, não acho que ela se encaixa em tudo isso que disse anteriormente. Ela era uma pessoa perturbada que não soube se frear. Lamento muito pela sua fraqueza. Sabe-se lá por onde anda sua alma (tenho calafrios só de pensar)...
“A arte diz o indizível; exprime o inexprimível, traduz o intraduzível.” (Leornado Da Vinci)
Deixo vocês com dois grandes nomes de onde certamente Amy tirou a sua “originalidade”:
Muito Bom, ótimo post. Realmente a relação entre os grandes gênios da arte e as drogas foram muito fortes. É claro que existem casos de grandes personalidades que "provavelmente" não usaram nada para aflorar sua genialidade. Na minha opinião talento sempre esteve la, se vivêssemos num mundo lúdico sem drogas acredito que a vida encontraria um meio e esses gênios de uma forma ou de outra expressariam sua grandeza, na minha opinião as drogas não melhoram nada, a sociedade criou o mito... a fama.. que pessoas revoltadas.. pessoas que desafiam padrões usam drogas "são cool" " sexo drogas e rock n roll", mais na realidade a conclusão é tao simples quanto o destino que leva...no fim das contas drogas apenas fazem a genialidade ter vida curta.
ResponderExcluirInteressantíssíssimo... resume ideias que estavam bagunçadas em minha mente.
ResponderExcluirConcordo plenamente: o não se "enquadrar" nas limitações internas e externas (corpo e mente, família e sociedade) imposto à genialidade de cada artista, ao meu ver, é o carro chefe de sua vulnerabilidade às drogas. Não conheço pesquisas, mas é notório que a prevalência do uso de substâncias psicoativas entre artistas, geniais ou não, parece ser maior que na população em geral.
Gostaria de acrescentar mais um elemento: quando algo se repete com frequência, o comportamento persistente por um grupo-rótulo gera uma cultura que impregna inconscientemente aqueles que adentram seu mundo. Muitas vezes, quase sem perceber, um artista - muitas fezes sem um pingo de fama e talento pobre - é invadido pelas drogas com mais facilidade. A cultura sutil "artista-usa-drogas", "artista-tende-a-usar-drogas" está no ar. E ai mora uma armadilha, no sentido de legitimar para muitos anônimos um mundo completamente destrutivo
Exatamente, Thiago! Mitos, mitos e mais mitos, pessoas colocando "chifre em cabeça de cachorro", inconsciente coletivo pervasivos de rótulos, jovens contaminados por essas "verdades universais". Infelizmente não são todas as pessoas capazes de discernir a verdade do senso comum, e aí cria-se a bola de neve. Enfim, sexo e rock'n'roll é comigo mesmo! Drogas: tô fora!
ResponderExcluirEu acho que isto seria um tema legal de um projeto final ou até mestrado. O que é artista? o que é ser criativo? o que é arte? E até que ponto as drogras influenciam nesta produção, na visão de mundo, na sensibilidade.
ResponderExcluirEu acrescentaria: muitos artistas drogados que temos hoje como mitos vieram de uma época onde pouco se sabia sobre os efeitos ruins das drogas.
Quando eu tinha lido a frase que iniciou seu texto, também fiquei pensativo. Acho sim que as drogas foram um tempeiro importante no rock.
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Rapaz, é um assunto muito profundo heuaheuae... eu penso, e vem tanta coisa na minha cabeça, que minha mão não pousa no teclado ehaueae...
Eu teimo em pensar que se pode ser artista sem ser drogado, mas todo artista insano que a gente conhece se droga. A droga é um gatilho para tudo que está lá dentro? A droga é um conforto para suportar as loucuras do artista?
(pensei em bocado de coisa.. mas sem condição de escrevrer agorhauehauehuae muitos devaneeeios)