Alguma tarde. Dia útil. Sol soteropolitano. Setembro de 1999. Colégio. Estava de farda, espinhas na cara, alguns quilos a menos, sanduíche hipercalórico na mão. Cabeça introvertida, reacionária, apaixonada, dinâmica, amedrontada, cheia de ideias de esquerda. Cabelo rebelde. Esquerda vermelha sim. De barba. Lenin, Lula, Che Guevara, Cuba, Ho Chi Mihn. Olhos brilhantes, professores vibrantes. Violão, música, festa. Angústia, busca de sentido. Garotos exaltados, garotas deslumbradas...
Deste adolescente, anonimamente "acomunistado", restou um adulto trintão com muita vontade de melhorar o mundo. Pelo menos o que está ao seu redor.
Mas os métodos são outros. A vida é outra. O mundo ainda é o mesmo.
Estava eu numa segunda-feira. Final de "expediente". Hora de descansar a mente e, como diriam os biólogos evolutivos, "olhar a fogueira para passar os canais de TV". Abri minha agenda para passar os compromissos do dia seguinte, e assim também iniciar os escritos do meu diário.
Ah não! não é que por um feliz (ou infeliz) acaso eu a abri no dia 8 de março, o famoso dia das nossas mulheres? pois é. Não por nada, fui arremessado a um labirinto de pensamentos por muitos avaliados como politicamente incorretos. Talvez eu queira me sentir privilegiado em pelo menos um dia no ano.
Enfim... vamos aos fatos.
Porque um dia para as mulheres? se a ideia de oferecer-lhes um dia as tornam especiais, há para isso, portanto, em suposição, dois motivos: (1) ou são, no grosso falar, no popular, mais privilegiadas, melhores, em algum(s)aspecto, ou (2) o contrário de tudo isso.
Portanto, trata-se ou de um grosseiro erro histórico, ou cultural, ou de matemática, já que soa absurdo reservar um dia de comemoração para metade da população mundial (ou 3 bilhões de mulheres). Por que não comemorar logo a humanidade toda? "dia do ser humano". Pronto. todo mundo feliz. Mas não. Oferecer-lhes um dia no nosso gregoriano calendário para exaltar-lhes a essência gonádica ou o que quer que seja remete, no mínimo, a um lapso de memória cultural.
Porque essa tempestade em copo d'água?
Porque eu quero um dia pra mim. Tenho apenas o meu aniversário. Não sou "minoria". Não sou mulher, nem índio, nem fundei nem inventei nada. Não pertenço a nenhuma igreja nem sou descendente de uma etnia em especial. Não sou santo, nem negro, nem homossexual. Não sou minoria, já disse! Sou homem, pardo, miscigenado, classe média, comum, igual, multidão!
Se as "minorias" têm direito, seja por conquista, piedade histórica (ou o que mais tentem justificar) a um dia especial para si no calendário (ou a programa de TV especial, ou a uma revista especial, ou igreja, ou país, ou partido político...), pra quê insistir na pretensa suposta missão de atingir a "igualdade" com a maioria? ora, ser minoria é muito melhor! direitos especiais, tratamento especial, chancela da cultura, comiseração da história... tremenda hipocrisia. "Não luto para ser igual" pensam. "Luto para que me vejam, para que me notem".
Eu NÃO quero igualdade. Eu, na minha condição de maioria-perdida-na-multidão, quero DIFERENÇA! Diferença, mas com originalidade. Diferença, mas com respeito. Diferença, mas com igualdade. Iguais na diferença. É muito cômodo insistir na síndrome-do-irmão-caçula em manter-se no conforto da minoria "oprimida". Ora!
Represento, portanto, na minha cósmica insignificância, o sofrimento da "maioria" sem dia no calendário. Sem programa de TV, sem associação de defesa, sem revista especializada, sem delegacia especializada, sem sal, sem cor, sem sexo, intimamente ofendida por ser réu de um crime filosófico-histórico-cultural-político: não ter rótulo.
Reacionário?
No dia em que eu precisar desesperadamente desse amigo rótulo para sobreviver, transformarei anonimamente o dia 29 de fevereiro de algum ano bissexto no DIA DOS HOMENS. Pelo menos, nesta data, a chance de eu ser massacrado por um grupo feminista, ou qualquer coisa do gênero, seria bem menor.
Portanto, trata-se ou de um grosseiro erro histórico, ou cultural, ou de matemática, já que soa absurdo reservar um dia de comemoração para metade da população mundial (ou 3 bilhões de mulheres). Por que não comemorar logo a humanidade toda? "dia do ser humano". Pronto. todo mundo feliz. Mas não. Oferecer-lhes um dia no nosso gregoriano calendário para exaltar-lhes a essência gonádica ou o que quer que seja remete, no mínimo, a um lapso de memória cultural.
Porque essa tempestade em copo d'água?
Porque eu quero um dia pra mim. Tenho apenas o meu aniversário. Não sou "minoria". Não sou mulher, nem índio, nem fundei nem inventei nada. Não pertenço a nenhuma igreja nem sou descendente de uma etnia em especial. Não sou santo, nem negro, nem homossexual. Não sou minoria, já disse! Sou homem, pardo, miscigenado, classe média, comum, igual, multidão!
Se as "minorias" têm direito, seja por conquista, piedade histórica (ou o que mais tentem justificar) a um dia especial para si no calendário (ou a programa de TV especial, ou a uma revista especial, ou igreja, ou país, ou partido político...), pra quê insistir na pretensa suposta missão de atingir a "igualdade" com a maioria? ora, ser minoria é muito melhor! direitos especiais, tratamento especial, chancela da cultura, comiseração da história... tremenda hipocrisia. "Não luto para ser igual" pensam. "Luto para que me vejam, para que me notem".
Eu NÃO quero igualdade. Eu, na minha condição de maioria-perdida-na-multidão, quero DIFERENÇA! Diferença, mas com originalidade. Diferença, mas com respeito. Diferença, mas com igualdade. Iguais na diferença. É muito cômodo insistir na síndrome-do-irmão-caçula em manter-se no conforto da minoria "oprimida". Ora!
Represento, portanto, na minha cósmica insignificância, o sofrimento da "maioria" sem dia no calendário. Sem programa de TV, sem associação de defesa, sem revista especializada, sem delegacia especializada, sem sal, sem cor, sem sexo, intimamente ofendida por ser réu de um crime filosófico-histórico-cultural-político: não ter rótulo.
Reacionário?
No dia em que eu precisar desesperadamente desse amigo rótulo para sobreviver, transformarei anonimamente o dia 29 de fevereiro de algum ano bissexto no DIA DOS HOMENS. Pelo menos, nesta data, a chance de eu ser massacrado por um grupo feminista, ou qualquer coisa do gênero, seria bem menor.
Às mulheres (com respeito à minha noiva, mãe e irmãs), feliz aniversário de auto-segregação!
Bem... até a próxima encarnação.
Já pensei exatamente nisso dezenas de vezes mas nunca verbalizei...
ResponderExcluir"O cavalheirismo é a parte do feminismo que é conveniente para as mulheres". Li isso outro dia e fiquei horas ruminando essa frase, li outro dia um artigo de uma psicóloga falando muito sobre essa relação sexo frágil x sexo masculino, metralhando toda essa hipocrisia latente e silenciosa, atacando os pilares do casamento convencional, enfim. Isso dá muito pano pra manga. Sou cuidadoso com minha mulher apenas por amá-la, sou gentil porque quero. O problema são as imposições socio-culturais que são a maior expressão do preconceito possível.