segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Não me arrependo de nada!


Me lembro de um diálogo do filme "Efeito borboleta" (2004). Na cena da prisão, Evan volta-se pra Carlos (muito religioso, latino e muito forte) e diz: "És um homem religioso Carlos. Acredita que os caminhos do senhor são misteriosos?" "Oh, yeah, man!" Mais tarde, Evan utiliza Carlos para reter outros presos porta afora enquanto mergulha nos seus escritos para sair daquela realidade.
Não diria que os caminhos do senhor são misteriosos. É misterioso tudo que precinda de protocolo. Porque é impossível saber o rumo que a coisa vai tomar.
Domingo, 2 de setembro de 2012, assisti em São Paulo/SP Show de Bibi Ferreira. Bibi Ferreira (Abigail Izquierdo Ferreira) é filha do ator e draumaturgo Procópio Ferreira, e nasceu em 1 de junho de 1922. Tem, portanto, 90 anos. Exceto pelo andar um pouco lentificado, nada, absolutamente NADA, denota e acusa o efeito massacrante costumaz do tempo sobre a biologia. Bibi apresentou um espetáculo sensacional, acompanhada de seus violonistas, violoncelistas, baixista, baterista, flautistas, saxofonista, trompetista e o maestro no violão. Tinha um pianista também. Posso ter esquecido ou ignorado algum instrumento.
Bibi canta (e cantou) com extrema fluência em cinco idiomas (português, espanhol, italiano, francês e inglês). O certo é que havia uma mistura artística, conceitual e musical entre o brasileiro e o estrangeiro, o novo e o velho, o popular e o erudito, o estático e o dinâmico, algo que nunca vi pincelado com tamanho equilíbrio. Nunca mesmo. Transmitia a sensação de que, embora você não saiba onde atirou com o revolver artístico que vive em cada um, acertou o alvo em cheio.
Tal gênio transcende ao tempo. Quando vejo isso constelado numa cantora quase mitológica de 90 anos, brasileira, que coloca letras de Noel Rosa sobre a linha melódica das óperas de Verdi, tenho a sensação que todos os caminhos são misteriosos.
No filme "A origem", a musica do chute (que acorda os personagens do sonho) chama-se  "Non, Je Ne Regrette Rien" (Não, não me arrependo de nada), de Edith Piaf (cantora francesa falecida em 1963). Piaf tem em Bibi talvez sua mais importante intérprete viva.
Pouco depois, brincando de ver vídeos no YouTube, meu pai me surpreendeu quando começou a cantarolar musicas de Edith Piaf. Navegando pelos vídeos, vi que Bibi era sua maior intérprete. Como tinha gostado muito do filme, achei a relação casual de significado muito forte (o que Jung chamaria de sincronicidade e o espiritismo de sinais).
Próximo ao dia dos pais, ví que Bibi Ferreira tinha organizado uma turnê pelo Brasil e em seguida seguiria para Portugal e Estados Unidos. Três shows por semana! Realmente, só a arte para prover tanta energia a um corpo de 90 anos.
Organizei a viagem de presente pelo dias do pais, e fui com o velho para a terra prometida da garoa. Nesta terra, em anos pretéritos, assisti a shows de Chuck Berry e BB King. Estes são, em média, 5 anos mais "jovens" que Bibi. Embora o show fosse muito impactante, artisticamente jamais fariam paralelo ao que suas figuras significam para a hitória da música.
Embora Bibi Ferreira não compartilhe de sua fama, artisticamente (e olha que não sou crítico nem musico profissional) fica evidente que esta foi uma das escolhidas de Deus para canalizar a arte. Pessoas assim raramente chegam ao estrelato internacional, tampouco lá permanecem. São presentes para poucos, e por pouco tempo, porque poucos entendem seu mistério e aceitam nele navegar.
A quantidade de material com Bibi Ferreira é tanta que não tenho coragem de aqui dispor um Link. Joguem no google, youtube ou o que seja, e vejam por si.
Não me arrependo de nada!

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