Quarta-feira, dia 01/08/2012, 19:13. Parei minha moto para
fazer um lanche em um posto de gasolina onde uma gentil funcionária preparou um
desses sanduiches cheios de salada, queijo e molho. Despretensiosamente puxei o
celular do bolso e entrei no twitter. Deslizando suavemente o dedo pela tela do
aparelho eis que aparece um tweet do @badreligion com as seguintes palavras: “goodbye
to a good friend, tony sly”. Veio imediatamente um frio na barriga e a fome
sumiu. Teria Tony Sly, vocalista da banda punk que mais amo morrido? Tuitei
perguntando a um amigo se isso tinha acontecido e poucos segundos depois veio a
confirmação: na manhã desta quarta-feira Fat Mike (vocalista do NOFX e dono da Fat
Wreck Chord) havia divulgado uma nota informando o seu falecimento sem dizer a
causa. Não consegui conter algumas lágrimas ali mesmo.
O punk rock mudou minha vida durante minha adolescência. Foi
um elo que criou os primeiros embriões das minhas grandes amizades, foi o responsável
pelo meu interesse em me tornar um músico. O final da minha adolescência foi
definido por uma série de conflitos existenciais (acredito que todo jovem que
tem mente ativa passa por isso) juntamente com as pessoas que mais amo nesse
planeta. Foi dentro do hardcore melódico, do punk, das guitarras excessivamente
distorcidas que tentei mudar o meu mundo, aprendi a compartilhar emoções,
aprendi a compor as primeiras músicas, trilhei caminhos os quais me enchem de
orgulho ao revirar as memórias.
...
Final 1998. Estava na casa de Pinguim, baterista da minha
primeira (UNI68) e segunda bandas de hardcore (BSk), ouvindo um disco do NOFX
(acho que o Punk in Drublic), quando peguei um CD da sua pilha onde havia um
senhor abrindo uma geladeira assustado. Em cima estava escrito “No Use For A
Name” e embaixo “Leche com carne”. Pedi para Pinguim colocar para tocar foi
amor à primeira “ouvida”. A equalização perfeita das guitarras e a melodia
extremamente marcante de uma voz suave muito diferente das demais bandas de
HxCx e punk que eu vinha ouvindo. Surtei.
Posso afirmar categoricamente que o No Use For A Name foi (e é) uma inspiração que carreguei durante toda minha vida. Vasculhando minhas memórias acho que consigo afirmar que em todas as bandas que toquei covers do NUFAN foram feitos. Enquanto minha timidez ia perdendo espaço para a minha vontade de gritar aos quatro cantos minhas verdades, o NUFAN ia costurando a cada disco lançado minha trajetória de crescimento como pessoa e minha formação como homem.
Na BSk tocamos com muita vontade “Couch Boy” e “Undefeated” no Idearium uma dezena de vezes; com a mini turnê que fiz com a ACME em 2004 tive o privilégio de cantar para umas duas mil pessoas em Maceió e umas mil e quinhentas em Aracaju “International You Day”, além dos diversos shows na Blue House que Thiago Fonseca (que a essa hora deve estar batendo um papo com o próprio Tony por aí) me chamava para tocar ou cantar alguma música deles; lembro dos meus pulos alucinados nos shows da Sput ao som de “Justified Black Eyes”; no primeiro show da Elipê (eu com meus 23 anos, Laís com seus 16) nós tocamos “This is a rebel song”; sem falar em shows futuros quando “Let me down” ecoava nas paredes do Calipso...
Em 2007 tive uma grata surpresa ao receber um e-mail de Bozo (Thiago Oliveira) que estampava a primeira vinda do No Use For A Name para o Brasil. No primeiro dia de venda garanti meu ingresso e três meses depois fomos para São Paulo na Via Funchal presenciar um dos melhores momentos da minha vida. O som estava perfeito, nossas almas estavam em transe! Liguei pra meus amigos para compartilhar alguns momentos do show, foi um dia de fanboy total!! Inesquecível...
Minha relação com o NUFAN não é meramente um fã que aprecia
uma simples banda de hardcore, mas sim a representação de anos maravilhosos da
minha vida que os bons ventos não trazem mais. Um símbolo, um ícone de anos
emocionalmente intensos, conflituosos, deprimidos, eufóricos, explosivos e de muito aprendizado. E a morte prematura de Tony Sly (apenas 41 anos) me
deixou extremamente triste, além de tudo por saber que o NUFAN entraria em
estúdio no segundo semestre desse ano para gravar mais um disco. Um grande compositor,
uma bela voz, um músico que admiro e vou carregar comigo até o fim da minha
vida. Esteja onde estiver, espero que esteja bem e com a certeza do dever
cumprido. Certamente um cara da Califórnia não faz a menor ideia de como ele
embalou a vida de jovens baianos que se potencializaram na música e como suas
canções nos modificaram. Obrigado por tudo, Tony Sly.
Estou arrasada com a notícia e emocionada com este texto. Quantas boas sensações você reviveu em mim com estas palavras!
ResponderExcluirCom certeza, foram anos maravilhosos, momentos inesquecíveis, que, com o passar do tempo, vão ficando ainda mais bonitos maqueados pela memória.
Lembro de quanto fiquei feliz e invejosa quando você disse que iria ao show do NUFAN e dos meus gritos nas barraquinhas do imbuí ao atender sua ligação na hora em que eles estavam tocando Let Me Down...foi generoso me permitir ouvir ao vivo a minha música preferida da banda, viu?
E essa foto agora faz mais sentido ainda: http://www.fotolog.com.br/laly_johns/33811686/
Amo você, amigo. :)
Caracaaaaaaaaa!! Muito tempo!!! Realmente Laly, vc falou tudo. Vamos focar no futuro e nos contentarmos pelas belas lembranças do que fomos capazes de produzir no passado.
ResponderExcluirBeijo no coração!