Hoje gostaria de falar de um dos estilos musicais mais viscerais, tristes e belos do mundo: o Blues. O estilo que sempre esteve profundamente ligado à cultura afro-americana, especialmente aquela oriunda do sul dos Estados Unidos (Alabama, Mississipi, Louisiana e Geórgia), dos escravos das plantações de algodão que usavam o canto, posteriormente definido como "blues", para embalar suas intermináveis e sofridas jornadas de trabalho. São evidentes tanto em seu ritmo sensual e vigoroso quanto na simplicidade de suas poesias que basicamente tratavam de aspectos populares típicos como religião, amor, sexo, traição e trabalho. Em inglês a palavra “blues” é sinônimo de tristeza, e essa sim está ligada aos músicos que encarnaram esse ritmo em toda sua vida.
Todos os famosos bluesmen tiveram uma história difícil e cheia de tragédia. Quase todos tiveram um ponto em comum as drogas e o alcoolismo, e não é à-toa que o blues nasceu do sofrimento e os melhores e mais famosos blues contam estórias desse tipo. Maldição ou coincidência?
Robert Johnson: Foi na década de 30 que surgiu aquele que é talvez o nome mais influente e idolatrado do blues. Morto aos 24 anos, Robert Johnson transformou-se na maior lenda do blues. Dizem que Robert fez um pacto com o Diabo numa certa encruzilhada e assim tornou-se o maior bluesman da sua época, estória contada no clássico “Crossroads Blues”. O negócio era simples: a glória em troca da alma. Mas pelo jeito o trato não rendeu o combinado. Johnson morreu sem conhecer a fortuna, possivelmente por um whisky envenenado pelo marido de uma de suas amantes.
B.B.King: Desde que foi abandonado por sua primeira esposa, Martha, que preferiu deixar o cara solto para cair na estrada, ele nunca mais se acertou. Resultado B.B.King teve 15 filhos, com 15 mulheres diferentes. Entre eles estão uma ex-traficante, um bluesman, um pastor protestante e algumas dona de casa. Seu caçula cumpre pena de dezoito anos no Texas por assaltos e trafico de drogas.
Stevie Ray Vaughan: Aí está um sujeito que comeu o pão que o diabo amassou. Muito antes de estourar como o maior bluesmen dos anos 80, Stevie já escrevia sua longa história de dependência de cocaína e álcool em Austin, no Texas, na época em que era mais conhecido como “Indian”. Acabou morrendo de forma estúpida num acidente de helicóptero ocorrido em 1990 (poucos meses depois do guitarrista ter se livrado do vício) numa batalha que quase o levou a morte várias vezes. Ironia é pouco...
Eric Clapton: Nunca conheceu seu pai. Só veio a saber que ele era soldado canadense em serviço na Inglaterra durante a segunda grande guerra em 1998. No auge do sucesso do Cream, o guitarrista se apaixonou pela esposa do seu melhor amigo, o beatle George Harrison. O motivo da discórdia era a modelo Patty Boyd. Essa confusão amorosa empurrou Clapton para o fundo do poço, mais precisamente para heroína e o alcoolismo. Em 1991 Eric Clapton parecia estar vivendo numa das fases mais tranqüilas de sua vida até que seu filho Conor de quatro anos veio a falecer. O garoto caiu do apartamento da mãe em Nova York, que ficava no 53º andar. Depois disso Clapton escreveu “Tears In Heaven”, uma forma de exorcismo para a morte de seu filho.
Em meados dos anos 40, começa um período intenso de migração do delta do Mississippi para Chicago, que já ocorria há alguns anos, porém de forma mais escassa. Talvez o grande nome dessa nova fase tenha sido o de Muddy Waters, o primeiro a eletrificar todos os instrumentos de sua banda. Com seu blues carregado, poderoso e intenso, Muddy Waters é talvez, junto com Robert Johnson, a figura mais influente e popular do blues americano, sendo o primeiro bluesman a ter seu nome reconhecido fora dos Estados Unidos, sobretudo na Inglaterra, onde influenciaria posteriormente o surgimento de diversas bandas importantes como The Beatles, Yardbirds e The Rolling Stones. Essa última inclusive teve seu nome baseado em uma música de Muddy Waters, Rollin' Stone. Waters compôs e/ou interpretou inúmeros clássicos máximos do blues como Baby Please Don't Go, I Can't Be Satisfied, Honey Bee e Hoochie Coochie Man, entre muitas outras. Sua importância no desenvolvimento do blues como gênero dominante no cenário mundial é tão grande que é necessário um capítulo à parte para descrever toda a sua obra.
Mesmo como todo o preconceito dos puristas de plantão o blues continua vivo dentro da música em diversos estilos e de diversas maneiras. Dentro dos riffs de John Mayer (o qual me deixou muito triste ao noticiar semana retrasada que está com um tumor na garganta), na expressão ímpar de Joe Satriani, na voz marcante de Shemekia Copeland, ainda na voz e na guitarra imortal do eterno B.B. King, na música empática e paralisante de Joe Bonamassa.
Para quem gosta de cinema fica a dica do filmaço “Cadillac Records” que conta a história da musica desde o início dos anos 1940 para o final de 1960’s, focando na famosa gravadora de Blues sediada em Chicago, Chess Records, do executivo Leonard Chess, e de cantores que gravaram na mesma,como Etta James, Muddy Waters, Chuck Berry, Little Walter entre outros.
Vida longa ao blues! Sempre!