domingo, 16 de outubro de 2011

Da tristeza do blues aos deuses da guitarra

Hoje gostaria de falar de um dos estilos musicais mais viscerais, tristes e belos do mundo: o Blues. O estilo que sempre esteve profundamente ligado à cultura afro-americana, especialmente aquela oriunda do sul dos Estados Unidos (Alabama, Mississipi, Louisiana e Geórgia), dos escravos das plantações de algodão que usavam o canto, posteriormente definido como "blues", para embalar suas intermináveis e sofridas jornadas de trabalho. São evidentes tanto em seu ritmo sensual e vigoroso quanto na simplicidade de suas poesias que basicamente tratavam de aspectos populares típicos como religião, amor, sexo, traição e trabalho. Em inglês a palavra “blues” é sinônimo de tristeza, e essa sim está ligada aos músicos que encarnaram esse ritmo em toda sua vida.

Todos os famosos bluesmen tiveram uma história difícil e cheia de tragédia. Quase todos tiveram um ponto em comum as drogas e o alcoolismo, e não é à-toa que o blues nasceu do sofrimento e os melhores e mais famosos blues contam estórias desse tipo. Maldição ou coincidência?

Robert Johnson: Foi na década de 30 que surgiu aquele que é talvez o nome mais influente e idolatrado do blues. Morto aos 24 anos, Robert Johnson transformou-se na maior lenda do blues. Dizem que Robert fez um pacto com o Diabo numa certa encruzilhada e assim tornou-se o maior bluesman da sua época, estória contada no clássico “Crossroads Blues”. O negócio era simples: a glória em troca da alma. Mas pelo jeito o trato não rendeu o combinado. Johnson morreu sem conhecer a fortuna, possivelmente por um whisky envenenado pelo marido de uma de suas amantes.

B.B.King: Desde que foi abandonado por sua primeira esposa, Martha, que preferiu deixar o cara solto para cair na estrada, ele nunca mais se acertou. Resultado B.B.King teve 15 filhos, com 15 mulheres diferentes. Entre eles estão uma ex-traficante, um bluesman, um pastor protestante e algumas dona de casa. Seu caçula cumpre pena de dezoito anos no Texas por assaltos e trafico de drogas.

Stevie Ray Vaughan: Aí está um sujeito que comeu o pão que o diabo amassou. Muito antes de estourar como o maior bluesmen dos anos 80, Stevie já escrevia sua longa história de dependência de cocaína e álcool em Austin, no Texas, na época em que era mais conhecido como “Indian”. Acabou morrendo de forma estúpida num acidente de helicóptero ocorrido em 1990 (poucos meses depois do guitarrista ter se livrado do vício) numa batalha que quase o levou a morte várias vezes. Ironia é pouco...

Eric Clapton: Nunca conheceu seu pai. Só veio a saber que ele era soldado canadense em serviço na Inglaterra durante a segunda grande guerra em 1998. No auge do sucesso do Cream, o guitarrista se apaixonou pela esposa do seu melhor amigo, o beatle George Harrison. O motivo da discórdia era a modelo Patty Boyd. Essa confusão amorosa empurrou Clapton para o fundo do poço, mais precisamente para heroína e o alcoolismo. Em 1991 Eric Clapton parecia estar vivendo numa das fases mais tranqüilas de sua vida até que seu filho Conor de quatro anos veio a falecer. O garoto caiu do apartamento da mãe em Nova York, que ficava no 53º andar. Depois disso Clapton escreveu “Tears In Heaven”, uma forma de exorcismo para a morte de seu filho.

Em meados dos anos 40, começa um período intenso de migração do delta do Mississippi para Chicago, que já ocorria há alguns anos, porém de forma mais escassa. Talvez o grande nome dessa nova fase tenha sido o de Muddy Waters, o primeiro a eletrificar todos os instrumentos de sua banda. Com seu blues carregado, poderoso e intenso, Muddy Waters é talvez, junto com Robert Johnson, a figura mais influente e popular do blues americano, sendo o primeiro bluesman a ter seu nome reconhecido fora dos Estados Unidos, sobretudo na Inglaterra, onde influenciaria posteriormente o surgimento de diversas bandas importantes como The Beatles, Yardbirds e The Rolling Stones. Essa última inclusive teve seu nome baseado em uma música de Muddy Waters, Rollin' Stone. Waters compôs e/ou interpretou inúmeros clássicos máximos do blues como Baby Please Don't Go, I Can't Be Satisfied, Honey Bee e Hoochie Coochie Man, entre muitas outras. Sua importância no desenvolvimento do blues como gênero dominante no cenário mundial é tão grande que é necessário um capítulo à parte para descrever toda a sua obra.

Mesmo como todo o preconceito dos puristas de plantão o blues continua vivo dentro da música em diversos estilos e de diversas maneiras. Dentro dos riffs de John Mayer (o qual me deixou muito triste ao noticiar semana retrasada que está com um tumor na garganta), na expressão ímpar de Joe Satriani, na voz marcante de Shemekia Copeland, ainda na voz e na guitarra imortal do eterno B.B. King, na música empática e paralisante de Joe Bonamassa.

Para quem gosta de cinema fica a dica do filmaço “Cadillac Records” que conta a história da musica desde o início dos anos 1940 para o final de 1960’s, focando na famosa gravadora de Blues sediada em Chicago, Chess Records, do executivo Leonard Chess, e de cantores que gravaram na mesma,como Etta James, Muddy Waters, Chuck Berry, Little Walter entre outros.

Vida longa ao blues! Sempre!

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Viagem ao outro lado do mundo


Não quero e nem preciso falar muito de Hiromi Uehara, pois ela é daquelas pessoas difíceis de descrever em palavras por conta da tamanha a habilidade que tem em seu instrumento. Fica mais fácil conferir nos vídeos o seu desempenho. Uehara tem estilo único, impressionante e sempre mesclando elementos da música clássica com sonoridade de jazz fusion.

Acompanhado de músicos de primeira linha como Mitch Cohn, Dave DiCenso, Tony Grey, Martin Valihora e David Fiuczynski ela consegue fazer uma bela JAM destilando suas técnicas para todos os lados. Sem dúvidas, ela foi uma daquelas crianças prodígios que logo cedo demonstrava habilidade fenomenal para o instrumento. Japonesa, começou a tocar piano aos 6 anos, inicialmente, no piano clássico. E na adolescência entrou no mundo do jazz tendo como mentor principal o lendário Ahmad Jamal. Ainda na adolescência tocou ao lado de Chick Corea o que acentuou ainda mais o lado fusion em suas composições.

Em 2003 ela lança seu 1º cd Another Mind que explora a fundo todos os elementos que um trio jazzfusion requer. No ano de 2004 vem o segundo álbum (Brain) na mesma linha do 1º. Contudo, só a partir do Beyond Standard (5º álbum) que o som começa a ganhar complexidade sonora, antes disso, vejo muita técnica. Apesar da técnica, há muita emoção na maneira dela conduzir seu piano. Com certeza é isso que me faz gostar do som dessa moça. É visível o prazer que sente quando está tocando. É um dos poucos músicos que chegam ao “orgasmo musical” e como diria o velho Sonny Rollins: “Ela sabe encontrar às notas perdidas”.

Outro ponto fundamental no som dessa incrível pianista é a criatividade. Isso fica claro em temas clássicos do jazz como “I Got Rhythm" do Gershwin imortalizado nas mãos de outro gênio do jazz Oscar Peterson, ou ainda "Led Boosts" do Jeff Back que nas mãos dela ganham interpretação diferenciada. Isso sem falar nos momentos de insanidade, chegando a bater literalmente no piano. Essa é com certeza uma das minhas pianistas favorita que conheci nos últimos anos. Quem não conhece vale a pena conferir.


Hiromi Uehara - Hiromi in Marciac 2010


Time Out - Hiromi Uehara


Hiromi Uehara - Led Boots

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Castlevania: dualidade, sombra, música e vida!

Texto por: Thiago Oliveira

O ser humano é, antes de tudo, dual. Dual em sua simplicidade, dual em suas múltiplas facetas. Qualquer aspecto do humano, social, psicológico, histórico, político, artístico, seja qual for, revela em de si alguma dualidade. Um sub-aspecto de um traço do humano sempre terá, em determinado momento, seu oposto contraditório se manifestando. Temos, assim, situação e oposição na política, luz e sombra na pintura, a dialética histórica, o dualismo psicofísico das visões transcendentais, e por ai vai.

O fato de termos conflitos em nós, qualquer que seja sua natureza, remete ao fato que estamos sempre em luta com nosso interior e conseqüentemente, com o mundo que nos rodeia.

Psicologicamente, podemos inferir que há um lado obscuro em nós que custamos querer enxergar. É, segundo a Psicologia Analítica de Jung, a nossa sombra.

A sombra representa aspectos negativos do nosso ser, paralela a uma realidade que preferimos não abordar. São nossos defeitos, características desprezadas, sentimentos reprimidos, memórias dolorosas, bem como características positivas que, quaisquer que sejam os motivos, não conseguimos trazer a tona.

Como a sombra faz parte de nós, mesmo enjaulada e reprimida, ela não deixa de nos influenciar. Como na natureza, se algo existe, existe sombra quando exposto à luz. O que sabemos em nós ser iluminado (qualquer que seja a conotação dada a esta palavra) revelará, em algum momento, a sombra correspondente.

Lidar com a sombra é algo muitas vezes doloroso. Nosso eu, nossa consciência, nosso ego, nós, estamos sempre em luta contra essa força imperativa da natureza. Ao tempo em que a alma se destina a iluminar a própria sombra (sim, creio que tudo se destina ao equilíbrio e a algo maior...), pelo princípio da evitação do desprazer estamos sempre plantando a semente da discórdia interna – fonte de toda a sorte de sofrimentos e doenças mentais individuais e coletivas que vemos por ai.

Há diversas maneiras de conhecer o mundo. Desvendar seus segredos. Temos a ciência, a religião do profano. A filosofia é a mãe. Temos a religião, abordando o sagrado. Há a arte, que unifica a tudo e a todos, sem exigir explicações. Usamos a arte, bem como suas manifestações, para acessar o mundo externo e o mundo externo – incluindo nosso lado negro, nossa face sombria, nossa outra face.

Nesse contexto, gostaria de abordar o papel do gótico. O termo gótico (do latim gotticu) refere-se, de forma pejorativa, aos Godos, povo bárbaro que semeou a destruição da pax romana e seu império do ocidente. Na idade média, passou a significar tudo que se opusesse à perfeição. Passou a significar o negativo, o diabólico, o maléfico, o mau, o desprezado, o caótico. Gótico é horror e paixão. Seria o mau, o mal, o irracional

Ora, oposto da perfeição, mau, negativo, maléfico, caótico... Estamos falando da sombra! Sombra como sinônimo de horror (pela conotação negativa no sentido amplo da palavra) e paixão (pela violência das emoções e aspectos comumente envolvidos). A subcultura e a arte gótica dela derivada são modos de acessar a sombra e, em ultima instância, de agregá-la à consciência e transformá-la em algo “bom”. É a isso que se destina a mente, é a isso que se destina a vida.

...

Há, contudo, um aspecto particular da cultura gótica que me chama atenção. A arte gótica e o gótico como filosofia de vida ganharam força no mundo ocidental nos anos 70. Nos anos 80, poderiam ser encontrados elementos góticos em todos os substratos artísticos e cultuais da humanidade. Na música, no vestuário, no comportamento social, nas artes, nas religiões, no lazer... Isso porque estamos sempre em contato com nossa sombra. Latu senso, ser gótico é viver sistematicamente a nossa sombra.

No mundo globalizado e tecnológico, os videogames impõem-se, há quase quatro décadas, como um importantíssimo meio de acesso, diria que quase que direto, à nossa fantasia e à nossa sombra. Daí ser natural uma contínua explosão artística ligada a esse objeto de lazer.

Nos anos 80, surgiu no Japão uma série de jogos de videogame chamada Castlevania. Tal série é a única no mundo a ter um jogo correspondente a cada um dos consoles já produzidos.

O jogo aborda a luta dos componentes do clã Belmont, natural da Europa medieval, encarnando diversas jornadas ao longo dos séculos no mito do herói que luta contra o lado negro da humanidade, representada pelo Drácula e criaturas afins. Castlevania nada mais é do que uma constelação artístico-tecnológica da luta do herói humano, presente em todos nós, contra a sombra vampiresca que nos suga a vida e, literalmente, foge do desprazer (ao fugir do sol).

O Drácula está em nós. É um símbolo da nossa sombra, e lutar contra ela é um papel intransferível de todos os homens. Nosso vampiro é o “dark side of our moon”. Ela (sombra) é a besta enjaulada, tal como a fera em seu castelo. Acessarmos nossa sombra é tão difícil quanto entrar no castelo e enfrentar o Drácula. Devemos estar prevenidos, bem armados e cientes do que podemos encontrar.

A intuição profunda da existência deste conflito está presente em todos nós. Por que será que as histórias de vampiro, nesses tempos tão conturbados, fazem tanto sucesso? Porque sempre nos atraímos de modo desproporcionalmente condescendente por personagens artísticos e históricos (quando não reais) tão grotescos e brutais?

...

Sempre fui fascinado pela vertente musical da série Castlevania. A música dos jogos sempre me remeteu a mundos de criaturas fantásticas e guerreiras, onde, com horror e emoção, lutaríamos contra a parte negra da humanidade (Drácula) que, em ultima instância, como vimos, representa a parte negra em nós (nossa sombra). Cheguei inclusive, em 1995, a escrever uma história completa de RPG (Role Play Game) sobre o tema.

Quando joguei Super Castlevania IV, em 1994, e vendi meu super Nintendo em 1996, recordo que por muitos anos vibrava de emoção só de lembrar da musiquinha da primeira fase. Era minha luta contra o mal! Era minha fantasia oras! E (o melhor de tudo) tinha uma trilha sonora!

Encontrar os emuladores de videogame em 1997 me permitiu matar toda a saudade. E nunca, desde então, deixei de me influenciar pelo universo gótico de Castlevania. Flertar com o gótico é, também, unir opostos (não só luz e sombra).

Observe a subcultura vampiresca dentro do gótico. O que seria juntar Heavy Metal com cultura medieval? O que seria, então, apresentar vampiros como seres de bom gosto que apreciam boa decoração, belas mulheres, obras de arte, partituras ao piano e orquestra? O que seria apresentar vampiros como seres tementes a deus e literalmente pálidos de culpa contra as atrocidades praticadas? O que seria um vampiro apaixonar-se por uma mortal, e colocar como objetivo maior de sua meia-vida preservar sua natureza viva, virgem da morte? O vampiro quer sugar o sangue. Mas não para destruir. Ele quer ter a vida do vivo. Quer voltar à vida! Quer ser a luz! Ele quer estar nos sol, e se aproxima daqueles que o fazem. Este aspecto vampiresco do gótico precisa ser observado.

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Esta semana, pesquisando sobre Castlevania, descobri algo que sempre intuí que acabaria aparecendo: Castlevania: The Concert (http://www.castlevaniaconcert.com/). Trata-se de uma banda de rock completa acompanhada de uma orquestra, também completa, executando algumas obras da japonesa Kinuyo Yamashita, compositora dos temas da série.

Tamanha foi minha felicidade quando vi que a obra prima da orquestra era justamente The Simon Belmont Theme! (Ela mesma. A musiquinha da primeira fase de super Castlevania IV do Super Nes que permeava anonimamente minha lama musical há quase 20 anos).


The Simon Belmont Theme - Musica original (Super Castlevania IV – Super Nes)

http://www.youtube.com/watch?v=5dauRYb9il8

The Simon Belmont Theme – Versão Heavy Metal

The Simon Belmont Theme – Castlevania The Orchestra

A sombra é linda!

Mais um vídeo

The Dracula’s castle

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Thiago Oliveira é médico psiquiatra, músico, compositor e um grande chocólatra convidado.
Seu blog: http://juramentodigital.blogspot.com/

domingo, 18 de setembro de 2011

Lobo Mau, Música, Ídolos e Poder

“Lobão é um cara polêmico”, “É um louco”, “Lobão adora falar mal de todo mundo”, “Lobão é arrogante”. Essas são apenas umas das poucas “verdades universais” que o senso comum possui de opinião sobre Lobão. Quem geralmente fala uma dessas frases decerto desconhece o trabalho maravilhoso e rico de João Luís Woerdenbag Filho e teve sua opinião formada superficialmente por mídias que viveram um embate intenso com ele. O livro “50 anos a mil” é uma autobiografia, e como tal, me deixou um tanto quanto receoso nas primeiras páginas que li. Não por ser sobre Lobão, mas porque geralmente autobiografias são perfumadinhas e sem defeitos. Ao passo que fui adentrando nesse universo niilista e explosivo da história de Lobão fui me desarmando, pois percebi que a hipocrisia passa longe das verdades que eram narradas sobre sua ótica canina. Além de sua infância superprotegida de sua mãe e sua adolescência “rock’n’roll meio non-sense”, pude conhecer um cara de uma sensibilidade aterradora, capaz de tecer comentários sublimes sobre fatos cotidianos impressionantes. Tive uma empatia imediata pela alma de um artista tão intenso. Paralelo à leitura deste livro fui ouvindo disco a disco, um por um, mergulhando música a música, para enfim perceber a grandiosidade de sua obra.

Além as músicas de “lado A” que muitos de nós cantarolamos a todo instante (como Me Chama, Corações Psicodélicos, Canos Silenciosos, Vida Louca Vida, Essa noite não, etc.), foram as músicas escondidas, as de lado B que realmente me pegaram pela alma. Em especial o disco “A vida é doce” é um disco simplesmente maravilhoso e que possuiu um orçamento baixíssimo. Me custa acreditar que uma obra de arte tão intensa tenha sido composta ao lado de um enfermeiro. Além da música homônima (que pra mim é a mais linda que ele já criou na vida) a belíssima “Uma delicada forma de calor” cantada com Zeca Baleiro é uma daquelas músicas de te tocar no seu âmago mais doce, uma música que te faz sentir um abraço numa noite fria. Impressionante.

Os cinco anos sem compor foi um divisor de águas impressionante na carreira de Lobão. É muito delicioso curtir a evolução de roqueiro agressivo e inteligentíssimo para um roqueiro poeta e sublime. Vale a pena ouvir toda a discografia de Lobão, se apaixonar por umas músicas, detestar tantas outras, se incomodar, se deixar levar, sentir a atmosfera que cada compilação traz em sua essência.

Como ponto negativo deixo registrado a minha grande discordância sobre a opinião dele sobre drogas. Ainda acho que elas não trazem absolutamente nada de positivo para ninguém (sou careta com orgulho nesse aspecto). “A vida é doce, depressa demais...”


Outra autobiografia que li e mudou muito minha maneira de enxergar o business da música foi “Música, Ídolos e Poder – do vinil ao download” de André Midani. Ele foi o homem todo poderoso da indústria fonográfica brasileira, um “gringo” que capitaneou a música brasileira por mais de 40 anos possibilitando e conduzindo o surgimento e a gravação da Bossa Nova, da Tropicália, da nata da MPB e do rock nacional. Uma pessoa com uma visão ímpar da música enquanto arte, característica que mostra-se ausente em praticamente todos os empresários do mundo da música atual. Sua trajetória confunde-se com a trajetória da época áurea do disco e da música popular brasileira – incluindo aí o rock nacional –, mas é, principalmente, um retrato de uma época onde as grandes realizações e criações eram movidas pela paixão, pela música do acaso, pela crença de que a indústria da música era “a indústria da felicidade humana” (sim! Foi exatamente daí que nós tiramos o nome do segundo disco da Elipê). Onde líderes e executivos criativos eram incentivados e aos poucos foram perdendo poder para os tecnocratas que se apossaram de quase tudo por serem pretensamente mais capazes de lidar com a parte suja do entretenimento: o lucro.

Nesse ponto ele conta como foi o início do jabá, lá na década de 70 quando o Pink Floyd lançou o disco “The Wall”. O grupo resolveu que não ia pagar jabá. De repente o disco estava em todas as vitrines dos Estados Unidos e não tocou nenhuma vez no rádio. Então eles aceitaram fazer o pagamento e os donos de emissoras de rádio perceberam o poder que tinha nas mãos. Foi o início da derrocada...

Outro ponto alto do livro é a sua explicação sobre artistas que alcançam o sucesso no primeiro disco. Segundo Midani a maioria dos artistas que viam seu primeiro hit se realizar precocemente deixava que o dinheiro e a fama subissem para a cabeça e isso os tirava totalmente o vigor criativo. O ideal segundo sua ótica era: o primeiro disco deveria apresentar o artista ao público e ser pouco trabalhado. Esse quase sempre dava prejuízo à gravadora. O segundo disco praticamente se pagava ou dava um pequeno prejuízo, mas já servia para o artista começar a se entender enquanto compositor, cantor, músico, enfim. Apenas no terceiro disco o sucesso vinha com força: aí além de o artista estar seguro de sua veia criativa e com maturidade para encarar o sucesso, o disco traria lucros que pagavam os dois anteriores. E ele deixa bem claro sua mágoa em ver a derrocada das gravadoras, que buscam incessantemente o “sucesso do verão” para sugar enquanto der e depois partir para a próxima. Vocês já perceberam a quantidade de bandas da década de 80 que realmente estouraram no terceiro disco? Titãs (Cabeça Dinossauro), Paralamas (Selvagem), Legião (Que país é este), queria até inserir Lobão nessa lista mas ele já tinha estourado “Me Chama” no segundo disco “Ronaldo foi pra guerra”. Se você procura respostas como “O sucesso estraga o artista?” (como questionou meu querido Puro Espírito no post sobre Alanis Morissette) eu indicaria esse livro interessantíssimo do querido André Midani para você formar suas opiniões.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

A genuinidade dos anuros


Muito bem amigos! Chegou a hora de descer no porão, abrir o baú, sacudir a poeira e resgatar pérolas sonoras perdidas ao longo das décadas.

Abro o baú para apresentar uma banda de hard rock de primeira linha, mas não muito conhecida aqui no Brasil. Pouco se sabe a respeito da história da banda TOAD. A única coisa que sei é que os caras vêm da terra do chocolate (Suíça) e foi formada pelos ex-menbros do Brainticket (sou louco por essa banda. Sonoridade prog experimental anos 60) no início dos anos 70.

Inicialmente, o TOAD contava com Casimo Lampis (batera,vocais); Werner Froehlich (baixo, vocais); Vic Vergeat (guitarra, vocais) que assumiu a liderança da banda depois que o vocal original (Benj Jäger) deixou a banda.

O primeiro disco de 1971, que leva o nome da banda (um dos álbuns mais procurados pelos aficionados em hard setentista), é uma pedrada na testa! Profusão de guitarras, solos e riffs, tudo acompanhado de contrabaixo marcante e criativo além da mão forte do batera, e vocais rasgados na medida. Tudo isso ao longo do disco vai levando o ouvinte ao orgasmo sonoro. Além disso, a engenharia de som de todo o álbum é do lendário Martin Birch que, posteriormente, ficou famoso por produzir bandas como Deep Purple, Black Sabbath e Iron Maiden.

Esse é o bom e velho rock n' roll com aquela roupagem de alta voltagem da década de 70. Riffs potentes com bastante fuzz passeando pelos alto-falantes e solos a volume cavalar com algumas pegadas de hard blues acidificado no saturado apito das válvulas dos amplificadores. É como um soco no estômago! Pauleira total!

Infelizmente a sonoridade desses caras ficou restrita aquela época, mas é sempre gostoso e importante resgatar esses registros maravilhosos. Tenham certeza que o meu baú de velharias ainda será aberto por muitas vezes aqui no Chocolate e outras coisas... Enjoy!


Toad - Pig's Walk

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Ela ERA Revoltada!

Por onde anda Alanis Morissette.?

“You live, you learn, You love, you learn”(Alanis Morissette)

Agora partimos para o Canada!! :D...vamos falar desse fenômeno chamado Alanis Morisstte, ué mais porque fenômeno? Vcs devem estar se perguntando, simplesmente pq esta hoje senhora de 37 anos em 1996 com apenas 22 anos assombrou o mundo da música com um álbum autobiográfico onde contava todas as suas experiências sexuais e não sexuais e botava pra fora todos os seus medos, se tornando a voz de todas as adolescentes do mundo inteiro!!

A garota revoltada do canada foi um fenômeno, Alanis entrou no Guiness Book com o CD Jagged Little Pill como o álbum de estreia mais vendido no mundo por uma cantora estreante: quase 30 milhões de cópias. Venceu tudo que tinha pela frente, ganhou 5 grammys com o seu álbum de estreia e teve 5 musicas no topo da billboard.

E então veio o sucesso (que droga!) e a garota revoltada pirou de vez!. Alanis teve problemas com drogas, problemas de relacionamento entre os membros da banda, naquela época Alanis namorava com seu baterista e atual Foo Fighters Taylor Hawkins e eles terminaram, o ótimo guitarrista Jesse Tobias pediu pra sair, enfim a coisa começou a desandar (Maldito sucesso!).

Depois de uma mega turnê de sucesso absurdo,o mundo ficava na expectativa para o próximo álbum, a pressão era enorme, seria o próximo álbum tão bom quanto o primeiro? a pressão foi tanta que a Alanis deu tilt! rsrsrs ela não suportou a pressão e foi se refugiar na índia buscando uma paz interior, uma paz espiritual. Pois bem ela voltou em 1998 com o álbum Supposed Former Infatuation Junkie (nome da porra..fale rápido 3 vezes.. e com uma cream cracker na boca!), que na minha humilde opinião não foi bom e só mostrou que a garota revoltada que todos gostavam, INCLUSIVE EU: D, não existia mais...parece que o sucesso mais atrapalhou do que ajudou, ela ficou pop e não tinha mais a mesma revolta que a fez se destacar, a partir dai os álbuns que se sucederam não foram nem de longe sombra do maravilhoso Jagged Little Pill.

VEJAM A CLARA DIFERENÇA.. DA ALANIS REVOLTADA E DA ALANIS APÓS O MALDITO SUCESSO!.




Bom e hoje como anda a garota revoltada, ou no caso senhora revoltada rsrsrs, Alanis esta com 37 anos é casada com o rapper Mario Treadway e tem um filho chamado Ever Imre. Desde 2009 não lança nenhum álbum novo, mais continua no mundo da música fazendo canções para filmes como Prince of persia e temas para peças teatrais.