segunda-feira, 8 de abril de 2013

Eu não tenho medo de Marx



É engraçado como a maior parte das pessoas têm esteriotipado a imagem do marxista. Geralmente é um indivíduo com não mais que 40 anos, boina na cabeça, camisa com a estampa de Che Guevara, calças largas e sujas, sapatos velhos nos pés, barbudo e afiliado a qualquer centro acadêmico estudantil. Hehhehehe...isso é Marx? É no mínimo uma interpretação indecente de tudo que Marx já disse.

Não sou marxista e nem mesmo tenho certo apreço pelo modelo. Contudo, entendo a importância das discussões políticas e econômicas, assim como, a compreensão da realidade nas palavras desse intelectual. Karl Max nos deu a possibilidade para refletir profundamente a natureza do capitalismo e imaginar uma nova dinâmica de funcionamento da sociedade ou nas palavras do próprio Marx: “interpretar o mundo é transformá-lo”.

Hoje trago a porposta de conhecer um pouco melhor as ideias desse pensador. E para explicar Marx convidei uma das mulheres mais inteligentes que tive a oportunidade de conhecer nos últimos anos. Daiana Brito é bacharel em economia e mestranda em planejamento do desenvolvimento pela UFPA. Deixo claro que ela não possui nem um fio de cabelo marxista e quando fiz o convite disse a seguinte frase: “...isso é só uma tentativa de responder ousadamente alguma coisa em Marx...” abaixo ela irá descrever em termos econômicos (teoria do dinheiro, processo produtivo, lucro e mais-valia) o pensamento de Marx.

“Para Marx o mundo é estruturado por pressupostos de mercadoria e faz-se necessário compreender o caráter dual das mercadorias (por possuírem valor de uso e valor de troca) entretanto, existe uma diferenciação entre dinheiro e demais mercadorias.  A teoria do dinheiro em Marx começa com a explicação a partir da caracterização das relações mercantis da essência do dinheiro: o cerne da questão é que o dinheiro tem poder social.

Desse modo, por mais que o dinheiro apresente  um vinculo estrito com o valor,  ele se movimenta  de maneira autônoma para além do valor, ainda que este seja sua essência; além disso, de maneira dialética o dinheiro apresenta  determinantes próprios.

Por trás do equivalente geral está o trabalho humano, de modo que o dinheiro se caracteriza como  uma expressão do trabalho socializado, ademais para o Marx o dinheiro é a mercadoria que exerce papel de equivalente geral , definindo-se a partir da ideia de moeda-mercadoria destacando-se como forma independente do valor de troca, o que lhe permite certa contraposição quando comparada  as demais mercadorias enquanto medida de valor. Desse modo, o dinheiro é um fim em si mesmo que aparece como um intermediário para realizar transações.

 É importante salientar que não é através do dinheiro que Marx determina os preços a partir do valor, mas, imprescindivelmente a partir da distribuição da mais-valia produzida não do trabalho necessário para a produção de cada mercadoria, mas, sobretudo da proporção do capital investido no processo de igualação das taxas de lucro que são constantemente distintos.  Dessa observação, pode-se explicar inclusive porque em um sistema capitalista o preço e o valor se diferem. 

Nessa perspectiva, o dinheiro enquanto mercadoria tem a característica de servir como medida de valor das mercadorias facilitando, por exemplo, o intercambio entre  mercadorias e, logicamente, a realização do capital: o dinheiro inicia e finaliza o ciclo completo de reprodução do capital e faz-se importante para criação de valor dentro de um processo produtivo.  

Enfim, Marx estabeleceu condições para a compreensão do funcionamento lógico do dinheiro, sobretudo a partir da circulação do capital  expressando  tensões dinâmicas provenientes dentro do próprio processo produtivo e da relação de conflito entre capitalistas e trabalhadores. 

O sistema econômico é orientado pelo valor e a partir disso, o  trabalho  é a fonte de valor do sistema. Assim, para que exista o lucro é necessário que exista a mais-valia, pois o lucro é uma consequência do processo produtivo e o principal fenômeno da mais-valia. 

O valor do trabalho é determinado pelo tempo de trabalho socialmente necessário envolvido para manter o trabalhador vivo e a manutenção continua desse sistema. 

Em outras palavras, interpretando o trabalho como  fonte de obtenção de riqueza, inclusive a mercantil, ele é o responsável  por possuir propriedades que correspondem ao duplo caráter da mercadoria (valor de uso e valor de troca).

 A teoria do valor baseado no trabalho foge ao sentimentalismo ou a dogmas morais que tentam valorizar o trabalhador como agente  meramente explorado dentro do sistema,  mas faz-se  imprescindível entender  que a teoria do valor  encontra seu fundamento no papel  do trabalho como base permanente da existência da sociedade. 

Para o Marx, o valor representa o custo de produção de uma mercadoria à sociedade, dado que toda mercadoria tem um valor e a troca representa simplesmente o seu reflexo. 

Nessa perspectiva, o fato de que a força de trabalho é a força motriz da produção, esse custo só pode ser medido pela quantidade de trabalho que foi impregnada à mercadoria. Essa dinâmica da compra e venda da força de trabalho é que permite o surgimento da mais-valia e é possível dizer ainda que a força de trabalho é vendida pelo seu valor.

Dado que a força de trabalho representa a fonte de mais-valia, quanto mais elevada à composição orgânica de capital, menor a taxa de lucro. Desse modo, enquanto a produtividade do trabalho aumenta, a taxa de lucro cai.

Dito isso, a diferença entre o valor produzido pelo trabalhador e o valor da força de trabalho representa a mais-valia. Após o pagamento dos custos envolvidos no processo produtivo, a mais-valia aparece como lucro.

Marx mostra que o sistema se orienta pela taxa de lucro e desse modo, as relações sociais se transformam em relações entre coisas. Do mesmo modo, o valor da força de trabalho se converte em salário como pagamento do próprio trabalho e a mais-valia (produto do trabalho) se transforma em lucro, ou seja, um produto do capital. 

A partir disso, o processo produtivo se torna processo de produção de mais-valia e pode ser racionalmente fundamentado pelo fato da capacidade da mais-valia gerar valor, dado que a eficiência da gestão do processo de trabalho é medida pela esperança do lucro.

Uma das implicações do processo de produção de mais-valia é o que o Marx demonstrou como “auto-expansão do valor”, em que o capital se comporta como uma  acumulação de mais-valia proveniente do trabalho (fonte de valor), e essa acumulação  pode se transformar em, por exemplo, dinheiro, mercadorias ou até meio de produção; e frequentemente  certa combinação desses três elementos. Assim, a dinâmica  capitalista  pode assegurar  acumulações posteriores.

Outra implicação relevante  do processo de produção da mais-valia é que embora o lucro se realize  quando a capacidade substantiva da mais-valia é transformada, o lucro também tem a capacidade de determinar a mais-valia, através da inversão de papeis em que este deixa de ser determinado e passa a ser determinante da mais-valia.”


Considero de extrema importância a contribuição de Marx, sobretudo o pensamento a respeito da formação e estrutura do capital como vimos acima. Essas ideias deveriam ter maior circualção e um nível mais intenso de debate, pois é a essência daquilo que vivemos. Em seu livro "COMO MUDAR O MUNDO”  Hobsbawn nos diz:Não podemos prever as soluções para os problemas que o mundo enfrentará no século XXI, mas para que haja alguma possibilidade de êxito devemos fazer-nos as perguntas de Marx”.

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