É engraçado como a maior parte
das pessoas têm esteriotipado a imagem do marxista. Geralmente é um indivíduo
com não mais que 40 anos, boina na cabeça, camisa com a estampa de Che Guevara,
calças largas e sujas, sapatos velhos nos pés, barbudo e afiliado a qualquer
centro acadêmico estudantil. Hehhehehe...isso é Marx? É no mínimo uma
interpretação indecente de tudo que Marx já disse.
Não sou marxista e
nem mesmo tenho certo apreço pelo modelo. Contudo, entendo a importância
das discussões políticas e econômicas, assim como, a compreensão da realidade
nas palavras desse intelectual. Karl Max nos deu a possibilidade para refletir
profundamente a natureza do capitalismo e imaginar uma nova dinâmica de
funcionamento da sociedade ou nas palavras do próprio Marx: “interpretar o
mundo é transformá-lo”.
Hoje trago a porposta de conhecer
um pouco melhor as ideias desse pensador. E para explicar Marx convidei uma
das mulheres mais inteligentes que tive a oportunidade de conhecer nos últimos
anos. Daiana Brito é bacharel em economia e mestranda em planejamento do
desenvolvimento pela UFPA. Deixo claro que ela não possui nem um fio de cabelo
marxista e quando fiz o convite disse a seguinte frase: “...isso é só uma tentativa de responder ousadamente alguma
coisa em Marx...” abaixo ela irá descrever em termos econômicos (teoria
do dinheiro, processo produtivo, lucro e mais-valia) o pensamento de Marx.
“Para Marx o mundo é estruturado
por pressupostos de mercadoria e faz-se necessário compreender o caráter dual
das mercadorias (por possuírem valor de uso e valor de troca) entretanto,
existe uma diferenciação entre dinheiro e demais mercadorias. A teoria do
dinheiro em Marx começa com a explicação a partir da caracterização das
relações mercantis da essência do dinheiro: o cerne da questão é que o dinheiro
tem poder social.
Desse modo, por mais que o
dinheiro apresente um vinculo estrito com o valor, ele se
movimenta de maneira autônoma para além do valor, ainda que este seja sua
essência; além disso, de maneira dialética o dinheiro apresenta determinantes
próprios.
Por trás do equivalente geral
está o trabalho humano, de modo que o dinheiro se caracteriza como uma
expressão do trabalho socializado, ademais para o Marx o dinheiro é a
mercadoria que exerce papel de equivalente geral , definindo-se a partir da ideia
de moeda-mercadoria destacando-se como forma independente do valor de troca, o
que lhe permite certa contraposição quando comparada as demais
mercadorias enquanto medida de valor. Desse modo, o dinheiro é um fim em si
mesmo que aparece como um intermediário para realizar transações.
É importante salientar que
não é através do dinheiro que Marx determina os preços a partir do valor, mas,
imprescindivelmente a partir da distribuição da mais-valia produzida não do
trabalho necessário para a produção de cada mercadoria, mas, sobretudo da
proporção do capital investido no processo de igualação das taxas de lucro que
são constantemente distintos. Dessa observação, pode-se explicar
inclusive porque em um sistema capitalista o preço e o valor se diferem.
Nessa perspectiva, o dinheiro
enquanto mercadoria tem a característica de servir como medida de valor das
mercadorias facilitando, por exemplo, o intercambio entre mercadorias e,
logicamente, a realização do capital: o dinheiro inicia e finaliza o ciclo completo
de reprodução do capital e faz-se importante para criação de valor dentro de um
processo produtivo.
Enfim, Marx estabeleceu condições
para a compreensão do funcionamento lógico do dinheiro, sobretudo a partir da
circulação do capital expressando tensões dinâmicas provenientes
dentro do próprio processo produtivo e da relação de conflito entre
capitalistas e trabalhadores.
O sistema econômico é
orientado pelo valor e a partir disso, o trabalho é a fonte de
valor do sistema. Assim, para que exista o lucro é necessário que exista a
mais-valia, pois o lucro é uma consequência do processo produtivo e o principal
fenômeno da mais-valia.
O valor do trabalho é determinado
pelo tempo de trabalho socialmente necessário envolvido para manter o
trabalhador vivo e a manutenção continua desse sistema.
Em outras palavras, interpretando
o trabalho como fonte de obtenção de riqueza, inclusive a mercantil, ele
é o responsável por possuir propriedades que correspondem ao duplo
caráter da mercadoria (valor de uso e valor de troca).
A teoria do
valor baseado no trabalho foge ao sentimentalismo ou a dogmas morais que tentam
valorizar o trabalhador como agente meramente explorado dentro do
sistema, mas faz-se imprescindível entender que a teoria do
valor encontra seu fundamento no papel do trabalho como base
permanente da existência da sociedade.
Para o Marx, o valor representa o custo de produção de uma mercadoria à
sociedade, dado que toda mercadoria tem um valor e a troca representa
simplesmente o seu reflexo.
Nessa perspectiva, o fato de que
a força de trabalho é a força motriz da produção, esse custo só pode ser medido
pela quantidade de trabalho que foi impregnada à mercadoria. Essa dinâmica da
compra e venda da força de trabalho é que permite o surgimento da mais-valia e
é possível dizer ainda que a força de trabalho é vendida pelo seu valor.
Dado que a força de trabalho
representa a fonte de mais-valia, quanto mais elevada à composição orgânica de
capital, menor a taxa de lucro. Desse modo, enquanto a produtividade do
trabalho aumenta, a taxa de lucro cai.
Dito isso, a diferença entre o
valor produzido pelo trabalhador e o valor da força de trabalho representa a
mais-valia. Após o pagamento dos custos envolvidos no processo produtivo, a
mais-valia aparece como lucro.
Marx mostra que o
sistema se orienta pela taxa de lucro e desse modo, as relações sociais se
transformam em relações entre coisas. Do mesmo modo, o valor da força de
trabalho se converte em salário como pagamento do próprio trabalho e a mais-valia
(produto do trabalho) se transforma em lucro, ou seja, um produto do capital.
A partir disso, o
processo produtivo se torna processo de produção de mais-valia e pode ser
racionalmente fundamentado pelo fato da capacidade da mais-valia gerar valor,
dado que a eficiência da gestão do processo de trabalho é medida pela esperança
do lucro.
Uma das implicações do processo
de produção de mais-valia é o que o Marx demonstrou como “auto-expansão do
valor”, em que o capital se comporta como uma acumulação de mais-valia
proveniente do trabalho (fonte de valor), e essa acumulação pode se
transformar em, por exemplo, dinheiro, mercadorias ou até meio de produção; e
frequentemente certa combinação desses três elementos. Assim, a
dinâmica capitalista pode assegurar acumulações posteriores.
Outra implicação
relevante do processo de produção da mais-valia é que embora o lucro se
realize quando a capacidade substantiva da mais-valia é transformada, o
lucro também tem a capacidade de determinar a mais-valia, através da inversão
de papeis em que este deixa de ser determinado e passa a ser determinante da
mais-valia.”
Considero de extrema importância a contribuição de
Marx, sobretudo o pensamento a respeito da formação e estrutura do capital como
vimos acima. Essas ideias deveriam ter maior circualção e um nível mais intenso
de debate, pois é a essência daquilo que vivemos. Em seu livro "COMO MUDAR
O MUNDO” Hobsbawn
nos diz: “Não podemos prever as soluções para os
problemas que o mundo enfrentará no século XXI, mas para que haja alguma
possibilidade de êxito devemos fazer-nos as perguntas de Marx”.
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