quarta-feira, 13 de março de 2013

A classe mérdia


Há algum tempo que venho refletindo sobre o boom de moralismo e “bom-mocismo” que foi pulverizado por todos nos e-mails e redes sociais. Todos gostam de compartilhar suas opiniões políticas, sociais, antropológicas, filosóficas ou qualquer coisa, como se aquela frase feita, aquele powerpoint ou aquela foto definissem exatamente o seu comportamento moral e ético perante aos olhos da sociedade (ou até de Deus!). Acontece que historicamente a maior parte da população brasileira tem se comportado de modo passivo e egoísta (ok! Estou sendo taxativo e generalista) e quase nunca nos movemos para conquistar evoluções sólidas dentro da estrutura social. O brasileiro é sim passivo, arrogante e egoísta em sua maioria, somos sombras de corrupção, somos Gérsons nas mais extremas camadas da formação moral dos indivíduos. Tudo bem, não vou chover no molhado de novo...

O que tem me divertido muito ultimamente é observar o comportamento virtual e o real de pessoas mais próximas de mim. Nos facebooks ou salas de discussões nós quase sempre trabalhamos nossa luz, ou seja, aquilo que temos de positivo, nossos pensamentos progressistas, éticos, ilibados. Mas quando estamos dentro da esfera individual é que a grande sombra do brasileiro se manifesta. É no escurinho do cinema, no anonimato das multidões, nas possibilidades de não sermos notados.

Aconteceu-me algo extremamente pitoresco numa disciplina que peguei na minha pós-graduação que acho válido comentar aqui. Foi levantada uma discussão exatamente sobre o comportamento (ou mau comportamento) do povo soteropolitano – aqui vale a pena ressaltar a arrogância da classe média ou pseudo-burguesa num senso de exclusão absurdo – levando-se em consideração diversos aspectos. Um deles foi o trânsito. “Como o baiano é agressivo e mal educado no trânsito!” – eram as frases reverberadas na sala. Conversa vai, conversa vem, um colega que havia morado no Canadá manifestou-se falando a ordem do trânsito e do transporte público das cidades onde ele morou. Depois relatou sobre a educação do povo em shoppings centers que, ao finalizar seu lanche, imediatamente retiram a bandeja e põem numa lixeira deliberadamente, coisa e tal. Finalizando a aula tive a oportunidade de pegar uma carona com esse mesmo colega até a minha casa. No trajeto preguei no banco do carona: eram cortadas em cima de cortadas, trocas de faixas sem sinalização, coladas nos fundos dos carros da frente! Uma verdadeira aula de autoritarismo no trânsito. Minha cabeça explodiu!! Como que aquele bom samaritano que acabara de verbalizar os defeitos dos conterrâneos e enaltecer a cultura polida dos canadenses jogou todo seu discurso no lixo em minutos?!


Há algum tempo vi uma entrevista de Rodrigo, vocalista do Dead Fish, onde ele dizia que não acreditava na política nos moldes que conhecemos, mas sim na micropolítica – ou seja, aquela que praticamos diariamente e que tem um impacto direto no mundo ao nosso entorno. E acho que esse é o ponto: o que fazemos quando ninguém está olhando? O que fazemos quando não há interesse de recompensa? Então continuaremos a postar mensagens de protesto e desrespeitar qualquer um no nosso entorno em nome do nosso conforto e bem estar? Continuemos então a colocar o rei da nossa barriga na frente do interesse coletivo, sejamos moralmente podres e mal-educados. Assim sendo, eu paro meu carro na vaga de idoso e deficiente, pego meu smartphone e compartilho aquela foto exigindo que um político cumpra com suas obrigações e pare de me roubar.







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