Hoje quero falar um
pouco de Thelonious Sphere Monk. Diferente no nome e na música foi
inacreditavelmente surpreendente em suas composições. Ele era capaz de explorar
de forma hipnótica o silêncio da música. As vezes seus improvisos causa
angústia nos ouvintes, pois sempre surge algo diferente e inesperado. Sentado
ao piano com postura totalmente errada, dedos rígidos e em certos momentos
errando no dedilhado, promove improvisos desconcertantes. Contudo, sempre
objetivo e com notas nos momentos corretos contextualizando o tema.
Monk é conhecido também pela sua excentricidade,
pois era capaz de passar uma turnê inteira (vários dias) sem pronunciar uma
palavra. Há relatos que chegava a dormir no meio dos seus improvisos ou se
mostrava bastante agitado percorrendo o palco e dando voltas ao redor do seu
piano. Alguns dizem que sofria de deficiência mental, afirmando que era esquizofrênico.
Outros dizem que o uso de drogas como o uso de LSD o levou ao comportamento de
demência.
Com seu quarteto lendário
composto por Charlie Rouse (sax tenor), Larry Gales (baixo) e Ben Riley
(bateria) ganhou bastante notoriedade fazendo diversos shows pela Europa e
sendo reconhecido pelo público nos anos 60. Monk não produziu muito, foi
econômico, mas deixou um legado fenomenal. Temas como “Round Midnigh”, “Blue
Monk”, “Epistrophy” e “Straight No Chaser” são considerados hoje como standards do jazz.
Confesso que demorei algum tempo
para entender a complexidade da música de Monk. E realmente não é tão fácil absorver
as ideias sincopadas desse piano. Para quem tiver curiosidade e quiser explorar
melhor ideias transgressoras de Thelonious Monk, deixo abaixo uma lista da sua
melhor discografia. Sim. Monk é difícil, mas quando se compreende suas ideias
cada nota tocada é escutada com um prazer exorbitante. Vale a pena a aventura!
Thelonious Monk & Sonny Rollins – 1953
Considero um álbum bem leve de se escutar. Com contribuições
de Sonny Rollins e outros grnades nomes do jazz como Percy Heath (baixo), Art
Blakey (bateria), Art Taylor (bateria), Tommy Potter (baixo) e Julius Watkins
foi gravado nos meses de novembro de 1953 e setembro de 1954. São 5 faixas com
uma estética bem bebopiana com uma estrutura bem flexível o que deixa espaço
para os solos de Rollins contrastando com os solos de Monk. Vale o destaque
para os temas “Friday the 13th” e “Work”.
Brilliant Corners – 1956
Sem dúvida o álbum que mostra a essência de Monk. A faixa
título é totalmente desconcertante, traiçoeiro, rebelde com fraseado
cambaleante com mudanças bruscas e inusitadas. Esse álbum é surreal. Algo
próximo do chamado free jazz realizado por Coltrane mais tarde. Com Ernie Henry
(Sax alto), Sonny Rollins (sax tenor), Oscar Pettiford (baixo), Max Roach
(bateria), Clark Terry (trompete) e Paul Chambers (baixo) é considerado a obra
prima de Thelonious Monk. Além da faixa título, destaque para os temas “Ba-LueBolivar Ba-Lues-Are” e “Bemsha Swing”.
Monk's Dream – 1963
Com John Ore (baixo), Charlie Rouse (sax tenor) e Frankie
Dunlop (bateria) é um agradável álbum. É até possível escutá-lo de forma
displicente. Porém, é impossível não observar os solos do piano cheios de ângulos.
O tema “Body and Soul” nas mãos
Monk é magistral. Também vale a pena os temas “Bright Mississippi” e “Bye-Ya”.
Solo Monk – 1964
Acho esse álbum bem
divertido e também bem trabalhado. Solo sem outros instrumentos para atrapalhar
é possível sentir cada nota do piano. Destaque para “Dinah”, “TheseFoolish Things” e a clássica “Ruby, My Dear”.
Straight, No Chaser – 1966
Esse é o meu álbum favorito. Mostra um Monk amadurecido com
improvisações na medida correta. Charlie Rouse (sax tenor), Ben Riley
(bateria), e Larry Gales (baixo) acompanham o piano em 9 faixas com o melhor de
Monk. Também gosto bastante das improvisações do sax de Rouse. Bem alinhado com
as mãos do piano. Destaque para a faixa título “Straight, No Chaser”, “We See”
(um bop bem trabalhado) e um dos temas que mais gosto "GreenChineyms".
Underground – 1967
Só a capa desse álbum já vale. A sonoridade desse trabalho
me parece bem enigmático e até simples comprado aos trabalhos anteriores. Mesmo
assim, vale conferir, principalmente o tema “Ugly beauty” que considero o
melhor do álbum.