segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

VIDA


Dedico esse texto a Otto[1]
Muito obrigado por fazer compreender melhor a vida.


Seria uma eterna ilusão? A vida é o simples fato de querer está no futuro desrespeitando a ideia de presente e sem saber que isso é algo absurdamente incoerente. O que é a vida? É o sentimento de medo, alegria, perda, angustia, amor... são todas essas emoções condensadas em séculos, décadas, anos, meses, semanas, dias, horas, minutos e segundos. A vida é a insuficiência do querer mais, do ir além. É a possibilidade de perder e ganhar tudo. É a carne que sangra, transpira e envelhece denunciando o corpo em transformação. É o individuou que corre pelos trilhos do social sempre em busca de algo novo. A vida é o cotidiano e também o diferente que assusta todos aqueles que não percebem que o distinto pode ser algo maravilhoso. A vida é a dialética que se encontra nas discussões entre o velho e o novo, entre o ontem e o amanhã, entre o agora e o depois. É poder ficar louco, em delírio e achar graça ou raiva de tudo e não querer fazer absolutamente nada. É poder olhar dentro de si mesmo e não sentir medo. Ah! Sei lá! O que é a vida? É sonhar com algo bonito e também ter pesadelos. É abraçar seus amigos e entes queridos e acreditar que tudo irá dar certo. É olhar nos olhos dos desconhecidos e querer acreditar na bondade. A vida é provar os lábios da sua amada e sentir o saboroso gosto da cumplicidade. Meus amigos! A vida é a certeza da morte, mas sempre querendo ficar longe dela. É a incapacidade de compreender a simplicidade das coisas que nos deixaria totalmente descrentes do amanhã. É a certeza do nada e ainda assim acreditar em tudo. Mais uma vez, o que é a vida? Sou eu, é você, somos nós que fazemos desse mundo algo fabuloso e ao mesmo tempo horrendo. Por fim, poderia dizer que a vida nada mais é do que a possibilidade de fazer a pergunta: O QUE É A VIDA? E não ter palavras suficientes para respondê-la.
               


[1] [1] Cachorro da raça border collie, de olhar sempre curioso e ações destemidas. Falecido no dia 30/01/13 aos 10 anos de vida.


sábado, 16 de fevereiro de 2013

O olho que tudo vê


Estive a ver os livros da biblioteca do meu pai. Passou por minhas mãos o livro Jesus, o maior psicólogo que existiu. Neste livro, o autor usa as palavras de Jesus, retiradas dos evangelhos, para não apenas dar lições de auto ajuda e comportamento, mas para ajudar a compreender o sentido do comportamento aparentemente contraditório das pessoas.
Então, iniciei meus pensamentos.
O ser humano, atemporal, desde que é homo sapiens sapiens, encerra, em todos os aspectos de sua manifestação, a contradição, a dualidade, a coexistência de opostos. Sendo assim, tudo é possível em seus pensamentos e comportamentos. Há "DNA" para qualquer coisa em seu comportamento e suas manifestações. Jung chama isso de arquétipo.
Só não há contradição no estagio primordial (completa indiferenciação, tudo é massa pra tudo) ou na completa perfeição (completa diferenciação, o ser é tudo ao mesmo tempo). O conflito de opostos é natural para alavancar a dialética da evolução. Qualquer tipo de evolução. A regra "deve haver conflitos para que haja evolução" consiste numa lei que rege os fenômenos do universo.
E tudo isso tem a ver com o carnaval.
Como?
Pergunto: há um arquétipo para o carnaval? Existe no DNA comportamental humano um gene comportamental cuja manifestação seria uma festa gigantesca onde leis são subvertidas e, em ultima análise, o caos é festejado?
Eu acredito que sim.
Da mesma forma que as festas religiosas, os rituais coletivos e os ritos individuais celebram o divino, festas como o carnaval celebram o profano. Como o divino, o profano faz parte do homem, e é perfeitamente natural que institivamente nossa coletividade de homens crie uma manifestação coletiva dessa profanação. Isso é o carnaval.
Salvador da Bahia é a cidade NO MUNDO que mais reúne condições sociais e psicológicas para que tal manifestação do profano aconteça (Tanto que... acontece).
Embora compreenda que existir carnaval é tão natural e necessário quanto existir romaria de nossa senhora aparecida, há limites para o que é saudável ou não.
Nosso carnaval, há muito, já ultrapassou os limites do que é saudável ou construtivo no festejar o profano.
Muito se tem escrito sobre o ultrapassar desses limites. Cito nosso ultimo post como maior e mais sintético exemplo.

http://chocolateeoutrascoisas.blogspot.com.br/2013/02/we-are-carnaval.html

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

We are carnaval!!


Eu estava preparando um texto sobre o carnaval, comecei a levantar alguns dados, até me deparar com um texto felicíssimo do meu querido amigo Eduardo Lubisco. Não sou muito de replicar conteúdo aqui no blog, mas quando acho umas pérolas dessas prefiro referenciar e apenas bypassar a informação. Então deleitem-se nas palavras extremamente felizes do grande Javier Bardem (:P).



MIJO & RED BULL



“Ah, que bom você chegou/bem vindo a Salvador/coração do Brasil”

Não, você não é bem vindo ao nosso carnaval. O folião-turista, sim, claro. Mas, Bel, Durval, Ivete, Daniela e todos os outros que enriquecem a custas da senzala e da reinvenção dos navios negreiros, por favor, deixem minha cidade em paz.

 O carnaval soteropolitano é a maior festa privada do planeta. A população local é expulsa da sala de estar, enquanto as visitas do síndico se lambuzam com a comida e bebida servidas pelos moradores, agora, confinados entre a cozinha e o quartinho dos fundos.

Salvador é uma cidade com aproximadamente 2,6 milhões de habitantes. Segundo os dados da SECULT  relativos ao carnaval de 2010 (a variação dos números em relação a 2008 e 2009 são mínimas), deste total, 2,02 milhões (77,8%) não participam da festa, sendo que 1,57 milhão (60,5%) ficam em casa e 452 mil (17,4%) viajam.

Restam, então, pouco mais que 570 mil residentes (22,1%) participando da folia. Destes, 478 mil (18,5%) brincam, enquanto 93 mil (3,6%) trabalham.

Para não perdermos o raciocínio, vamos lá: até agora, somente 18,5% dos residentes de Salvador brincam o carnaval. Ou seja, em um universo de 2,6 milhões pessoas, apenas 478 mil participaram como foliões.

Ainda piora. Dentro do universo dos foliões locais, aproximadamente 59% pularam exclusivamente na pipoca, ou seja, pouco mais de 288 mil residentes. O restante (190 mil) se dividiu entre bloco; camarote; bloco e pipoca; camarote e pipoca; bloco, camarote e pipoca.

Caso esteja, assim como eu, tonto com tantos números, indico o contraste mais importante até agora, a meu ver: de 2,6 milhões de habitantes, somente 288 mil participaram do carnaval pipoca, gratuito, popular.

Há, contudo, entre defensores do carnaval para inglês ver, digo, para paulista participar, o argumento da injeção de dinheiro e oportunidade de a população ajudar na renda familiar durante um curto período de tempo. Para eles, a triste realidade: o rendimento médio real dos indivíduos que trabalharam durante os dias do período de análise é de R$ 737,02.

Isso mesmo, senhoras e senhores, entre os 2,6 milhões de habitantes de Salvador, 93 mil (3,57%) trabalham para ganhar, em média, R$ 737,02.

Em 2012, o então vice-prefeito, Edvaldo Brito, afirmou que ”o carnaval gerou aos cofres municipais um prejuízo parcial de R$ 8 milhões com a organização da festa.”.

Oxe, mas com tanto patrocínio, vendas de abadás, camisetas e impostos, para onde vai todo este dinheiro? Abrir um camarote não custa exatamente uma fortuna. A taxa inicial paga à prefeitura é de R$ 10,58 e mais R$ 42,34 por metro quadrado. Então, levando em consideração que o faturamento de um camarote pode chegar a R$ 14,4 milhões, não posso afirmar, mas tenho uma leve desconfiança a respeito de quem está faturando nessa brincadeira... 

A lógica dos blocos de trio não pode ser mais nefasta. Pessoas pagam para andar sobre o mesmo asfalto, sob as mesmas intempéries, sofrendo o mesmo aperto e ouvindo a mesma música que todo mundo. Porém, estão devidamente cercadas por uma corda que as aproxima dos seus semelhantes - gente selecionada e bonita - e os protege do povão, do feio, do pobre e do preto

 Já os camarotes são esquizofrênicos. Dentro daquelas bolhas assépticas, semelhantes se reconhecem para celebrar Baco com litros de whisky + energético, isolados dos festejos populares que, coincidentemente, acontecem logo ali no mundo real.

Carnaval popular não passa de meia página nos livros de história, de uma nostalgia, de um devaneio romântico de alguns que ainda preferem o perfume de mijo no asfalto ao fedor do arroto de whisky com Red Bull.