domingo, 11 de agosto de 2013

A escola é um saco. De quem é a culpa?

Texto escrito no dia dos pais de 2013
Feliz dia dos pais!

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Eu era um garoto. Um garoto normal. Crescido ao lado de muitos livros, meus pais me estimulavam à leitura. Até tomei gosto pela coisa. Li o menino do dedo verde aos 8 anos. Série vaga-lume. Papillon. Marcelo Rubens Paiva. Machado de Assis. Cecilia Meirelles. A biblioteca da escola era um paraíso pra mim.
"Sempre imaginei que o paraíso seria uma espécie de biblioteca" (Jorge Luis Borges).

Frequentava as aulas das 7 da manhã às 12:30h. Ia à biblioteca aos intervalos. Intervalos de 30 minutos. Isso mesmo. 30 minutos era o tempo que tinhamos para brincar, socializar, paquerar, jogar bola e... ir à biblioteca. Cadê o "ócio" criativo?
Eu tinha uma infância normal. Era embalado por sessão da tarde, turma da mônica, contos de fadas, videogames e umas poucas revistas. Seriados japoneses? sem dúvida. Meu único contato com periódicos
(teoricamente, informações atualizáveis) eram a revista Ação Games do meu primo Mateus. A revista Veja do meu pai. A revista Amiga da minha mãe. E só. Em 1991, ganhei meu primeiro som "3 em 1", onde
ouvia os discos de vinil da minha mãe. Caetano Veloso, Gilberto Gil, Lulu Santos, Legião Urbana,
Jaspion, Changeman e Jiraya. Sem dúvida, musica de qualidade.
Não havia internet. Havia só isso que descrevi. Só.
E ia vivendo. Era isso ai. Eu era um garoto "normal". Totalmente "normal". Ordinário. Mais um. Nem bom nem ruim. Apenas era. Como todos.
E havia a escola.

O que era a escola? Na época, para mim, uma obrigação. Estudava comunicação, matemática, ciências e estudos sociais no primário. Geografia, história, química e física. Inglês, português, literatura e gramatica daí em diante.
Até me esforçava para achar tudo isso interessante (e acabava conseguindo em alguns momentos). O problema era exatamente esse! Porque algo que deveria despertar interesse espontâneo exigia esforço? um esforço que tomava metade dos meus dias uteis?
Eu gostava de violão. Musica. Poesia. De entender o mundo. Como as pessoas pensavam e agiam. Gostava de rock. Gostava de conhecer e interagir com pessoas. Coisas e lugares.
Eu gostava da vida. mas a escola obrigava meus pais a pagarem caro para tomar metade do meu tempo com... geografia, quimica, polinomios, matrizes, história do México e bla-bla-bla.
Ok. Parte do curriculo é essencial. Mas não deveria ser "parte". Deveria ser tudo" Tudo!
Porque eu, portanto, um garoto que gostava de ler, estudar, socializar, tinha senso de responsabilidade, cresci com pais cultos e educados, achava a escola um saco?
Sempre suspeitei que juntar cinquenta alunos numa turma e cuspir conhecimento engessado de forma expositiva era algo, no mínimo, contraproducente.
Mutos colegas que hoje são profissionais de sucesso, mentes brilhantes, tiravam notas medianas na escola.
E tudo isso a um custo financeiro altíssimo aos pais e ao país. Dos meus 2 anos até meus 24 anos meu pai pagou mensalidades. Imagine isso investido numa aplicação, numa poupança, em imóveis, em o que quer que seja??

A escola não respeita a individualidade de ninguém.
Hoje, aos 31 anos, adivinha o que faço? adivinha... Adoro escrever, fazer musica, poesia, cronica e ensaios. Sou professor, dou aulas. Amo estudar o comportamento humano.  Gosto de conhecer e interagir com pessoas, coisas e lugares. Passei dez anos estudando para ser psiquiatra (isso sim, era fascinante).
Na escola, eu sempre tirei notas medíocres em redação e educação artística. Minha mãe não se conformava! Mesmo sabendo que eu era mais um, ela sabia dos meus pendores, limitações e inclinações. Mas ela também sabia que, perante ao sistema, eu era apenas mais um.
Infelizmente, fazer parte do sistema era (e é) necessário. Sem isso, não haveria vestibular, nem faculdade, nem formatura, nem profissão, nem susbsistência.
Preocupado com isso, e tendo em vista suas dificuldades pretéritas, meu pai me obrigava a tirar notas acima de 8.
Mas, no fim das contas, eu era mais um. E até tirava boas notas. Mas achava a escola (não as pessoas da escola, veja bem) um saco. Bullying direto e indireto. Bullying da vida.
Na minha prática como psiquiatra, canso de ver crianças inteligentes, sensíveis, educadas, com alto senso de cooperação e responsabilidade, levadas a tratamento porque não se adaptam à escola ou não conseguem tirar boas notas. Elas acham a escola um saco. Eu também achava. De quem é a culpa?

De quem é a culpa?
A culpa não foi minha.
A culpa não é delas.
A culpa não é de ninguém.
A responsabilidade é de todos nós.
Cuidado com o que seu filho faz e pensa. Ele precisa de você. O sistema não colaborará com ele. Nem com você.

Feliz dia dos pais!



sábado, 20 de julho de 2013

Parabéns para mim, nessa data querida (7)

Colégio Portinari. 1997. Prosa poética. Me lembro da professora Luzana, na oitava série, falando do lirismo e da subjetividade necessárias para a composição do poema, que na maioria das vezes é estruturado em versos. Versos. Seriam versos uma frase sobre a outra? seria a prosa uma frase ao lado da outra? 
Não sei.
Nunca consegui fazer poesia. Mas em idos de 2007 passei a ter prazer de imprimir no papel a tradução em palavras na exata ordem em que elas apareciam no caleidoscopio mental. Esse texto, que exponho abaixo, é a foto impressa do meu psiquismo em reflexão sobre meu aniversário. Vejo beleza na poesia em forma de prosa. Estrutura? que nada. Subjetividade e lirismo. Com certeza. Enjoy.

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Eu era, eu é, eu fui.
Muito pobre, certas veredas da aldeia. Medeia. Medeia a mea culpa.
Os gigantes têm os diálogos com os anjos. Simples fossem, tocas garantidas, medos perdidos, sortes achadas.
Meio assim, meio nada. Totalmente solto, totalmente vaga.
Peso, cor, vida, age, vive.
As cores se fundiram, no sol do meio dia, fazendo a vida anoitecer em sonhos reais. Nunca tive, sou a paz.
O amor e a fusão. Choram frente aos calendários, formigas subindo a montanha.
Pois bem. Vieram as punhaladas.
Punhaladas e punhaladas. Absorta de tantos tropeços, empecilhos e batalhas, finalmente caiu. Sucumbiu. Não percebeu que, amparada pelas próprias mãos invisíveis, ganhou a estrada dos novos arreios.
E assim foi. Voltei. Cheguei. O portão. Estou aqui.
Meus meninos. Meninas, moça, anciã. Nunca vã.
Onde estão teus carros? porque teu sorriso se abre tão negro pelos dentes alvos? Porque tua lupa nos abraça com o ímpeto da febre em seu antro dia solar? porque tua culpa?
Método. Apelido. Cães. Toca. Estuda, estúdio, foca.
Febre. Cabra da roca.
Desperta-me a estrada da vida escolhida. Mais uma vez, mal sabia o que me esperava o destino. Escolhas. Próprias. Proprietário. Ethos. É belo saber que és uma câmara única diante dos monitores do universo. Exclusivo e separado. Belo e atrasado. Vida.
O dia amanheceu azul. Sempre!
- Tua vida é linda
- Meu filho.
- Os dois são meus melhores amigos.
- Nunca vou ser assim.
- O que te trás aqui?
Minha alma charruas fadas beligerantes dos novos destinos. Não o controla, não o é. Ser bem, como quer. Ele vestem, ele vive, ele chora, ele parte, ele ama. Todos por um. Todos em um.
São e forte, zero e um. Logica analógica, britas digitais.
Ordem e cais.
Eu. Sou. Só. Vivo.
Outro homem, outra vida, nunca diferente daquele que precisa.

Parabéns para mim!

sábado, 15 de junho de 2013

Os anjos bons da nossa natureza

Paz. Guerra. Violência.
Em idos de 2007, estava a conversar no MSN com o saudoso Thiago Fonseca. Rememorando minha infância, estava revoltado com o fato de que só recentemente o problema do bullying fosse visto como uma catástrofe.
E é.
Nada mais leviano e injustificável. Totalmente gratuito, e praticado por crianças que, em sua maioria, de verdade, se tornarão "pessoas de bem". O que essas pessoas de bem fizeram com a banalidade de quem lava as mãos pode marcar a vida de outras jovens crianças para sempre.
Tragédias como essa são rotina no meu consultório.
Porque pessoas de bem fazem maldades? e de graça?
Porque há o bem e o mal em todos nós.
Não somos perfeitos (não somos só o bem)
Não somos totalmente imperfeitos (não somos só o mal)
Somos ambos e nenhum dos dois.
Thiago me disse que tentar explicar esse fenômeno (e porque permaneceu "anonimo" por tanto tempo) passaria por estudar toda a história da violência.
E esse assunto ficou na segunda pagina.

...

E os anos passaram. Até que ontem estava na livraria e ví o seguinte livro: Os anjos bons da nossa natureza - porque a violência diminuiu (Steven Pinker, Companhia das Letras)
Li apenas o prefácio (em si, muito pano pra manga). Steven explica como pretende nos convencer de que, desde que nossa espécie existe, os níveis e formas de violência, em todos os aspectos e sociedades, só fez diminuir. Ele sabe que encontraria resistência e até reações violentas a essa afirmação. Mas argumentou muito bem (pelo menos no prefacio desse catatau de quase 800 paginas).
Não tive coragem de comprar, masa ideia em si casa com uma ideia que eu tenho a muito tempo, em virtude  da minha crença Kardecista que tudo evolui.

...

Então imaginei o que seria um ato de bullying (leviano, injustificável, traumático) comparado com os duelos de antigamente, com as mortes no circo de Roma, com as dizimações de aldeias da pré história, e muitos outros atos inimaginável de violência que vemos. Steven cita o papel deletério da mídia em nos causar uma sensação de medo desproporcional ao nível de violência que tempos (sim, ele explica matematicamente).
Portanto, ta aí a indicação!

http://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=13271



domingo, 5 de maio de 2013

No mundo de MONK


Hoje quero falar um pouco de Thelonious Sphere Monk. Diferente no nome e na música foi inacreditavelmente surpreendente em suas composições. Ele era capaz de explorar de forma hipnótica o silêncio da música. As vezes seus improvisos causa angústia nos ouvintes, pois sempre surge algo diferente e inesperado. Sentado ao piano com postura totalmente errada, dedos rígidos e em certos momentos errando no dedilhado, promove improvisos desconcertantes. Contudo, sempre objetivo e com notas nos momentos corretos contextualizando o tema.

Monk é conhecido também pela sua excentricidade, pois era capaz de passar uma turnê inteira (vários dias) sem pronunciar uma palavra. Há relatos que chegava a dormir no meio dos seus improvisos ou se mostrava bastante agitado percorrendo o palco e dando voltas ao redor do seu piano. Alguns dizem que sofria de deficiência mental, afirmando que era esquizofrênico. Outros dizem que o uso de drogas como o uso de LSD o levou ao comportamento de demência. 

Com seu quarteto lendário composto por Charlie Rouse (sax tenor), Larry Gales (baixo) e Ben Riley (bateria) ganhou bastante notoriedade fazendo diversos shows pela Europa e sendo reconhecido pelo público nos anos 60. Monk não produziu muito, foi econômico, mas deixou um legado fenomenal. Temas como “Round Midnigh”, “Blue Monk”, “Epistrophy” e “Straight No Chaser” são considerados hoje como standards do jazz.

Confesso que demorei algum tempo para entender a complexidade da música de Monk. E realmente não é tão fácil absorver as ideias sincopadas desse piano. Para quem tiver curiosidade e quiser explorar melhor ideias transgressoras de Thelonious Monk, deixo abaixo uma lista da sua melhor discografia. Sim. Monk é difícil, mas quando se compreende suas ideias cada nota tocada é escutada com um prazer exorbitante. Vale a pena a aventura!

 



Thelonious Monk & Sonny Rollins – 1953
Considero um álbum bem leve de se escutar. Com contribuições de Sonny Rollins e outros grnades nomes do jazz como Percy Heath (baixo), Art Blakey (bateria), Art Taylor (bateria), Tommy Potter (baixo) e Julius Watkins foi gravado nos meses de novembro de 1953 e setembro de 1954. São 5 faixas com uma estética bem bebopiana com uma estrutura bem flexível o que deixa espaço para os solos de Rollins contrastando com os solos de Monk. Vale o destaque para os temas “Friday the 13th” e “Work”.

 

 


Sem dúvida o álbum que mostra a essência de Monk. A faixa título é totalmente desconcertante, traiçoeiro, rebelde com fraseado cambaleante com mudanças bruscas e inusitadas. Esse álbum é surreal. Algo próximo do chamado free jazz realizado por Coltrane mais tarde. Com Ernie Henry (Sax alto), Sonny Rollins (sax tenor), Oscar Pettiford (baixo), Max Roach (bateria), Clark Terry (trompete) e Paul Chambers (baixo) é considerado a obra prima de Thelonious Monk. Além da faixa título, destaque para os temas “Ba-LueBolivar Ba-Lues-Are” e “Bemsha Swing”. 





Monk's Dream – 1963

Com John Ore (baixo), Charlie Rouse (sax tenor) e Frankie Dunlop (bateria) é um agradável álbum. É até possível escutá-lo de forma displicente. Porém, é impossível não observar os solos do piano cheios de ângulos. O tema “Body and Soulnas mãos Monk é magistral. Também vale a pena os temas “Bright Mississippi” e “Bye-Ya”.










Solo Monk – 1964
 

Acho esse álbum bem divertido e também bem trabalhado. Solo sem outros instrumentos para atrapalhar é possível sentir cada nota do piano. Destaque para “Dinah”, “TheseFoolish Things” e a clássica “Ruby, My Dear”.












Straight, No Chaser – 1966
 


Esse é o meu álbum favorito. Mostra um Monk amadurecido com improvisações na medida correta. Charlie Rouse (sax tenor), Ben Riley (bateria), e Larry Gales (baixo) acompanham o piano em 9 faixas com o melhor de Monk. Também gosto bastante das improvisações do sax de Rouse. Bem alinhado com as mãos do piano. Destaque para a faixa título “Straight, No Chaser”, “We See” (um bop bem trabalhado) e um dos temas que mais gosto "GreenChineyms".








Underground – 1967
 


Só a capa desse álbum já vale. A sonoridade desse trabalho me parece bem enigmático e até simples comprado aos trabalhos anteriores. Mesmo assim, vale conferir, principalmente o tema “Ugly beauty” que considero o melhor do álbum.